01/09/2006
Carta da semana
Errar, e perseverar
“O real sentido da palavra
exclusão continuará nos escapando, na prática.
Refere-se à situação de marginalização
de pessoas ou grupos colocados em desvantagem na luta pela
sobrevivência, pela vida.
Ainda que se recorra a uma descrição
infinda de formas de exclusão: gênero, opção
sexual, raça, aparência física, nível
sócio-econômico, o significado nos escapa. Haverá
o horário nobre arbitrando o que se pode e não
se pode ver, os “lobos em pele de cordeiro” tentando
nos convencer de que lutam pelos humildes, procurando justificar
desvios utilizando-se da cláusula de Sêneca:
o Filósofo “Errar é humano”. Muitas
vezes esta citação vem junto à frase
atribuída a São Bernardo: perseverare autem
diabolicum, "mas perseverar é diabólico".
Sobejam articulações
para perpetrar e perpetuar "erros", privilégios,
pagamento de convocações extraordinárias
nos fóruns deliberativos, compra de votos, licitações
fraudulentas, gastos exorbitantes com propaganda eleitoral,
e outras ações que colocam grande parte da população
em filas intermináveis do SUS, na busca de emprego,
na mendicância.
Das palavras o significado não
se descola. A exclusão não é uma roupa,
mas a pele de quem sente e vive no dia-a-dia. Uma auxiliar
de serviços desabafa: “As pessoas não
querem conversar comigo, não me entendem por causa
do meu problema de fala”.
O significado da exclusão também
se remete às crianças que sofrem com as zombarias
de colegas que as chamam de “quatro olhos”, ou
de “baleia”, dentre outros adjetivos; e se agrava
a cada minuto da vida com carências de todas as formas
se incrustando, sem mais a vergonha apenas sentida, mas perpetuada.
Exclusão é a covardia de não se colocar
no lugar do outro. Já a inclusão não
é uma questão de solidariedade, mas de respeito,
não se limita a um ano nacional ou internacional, data
ou discurso. Não é uma frase de efeito.
Descrições, muitas vezes,
por mais pormenorizadas que sejam ainda se distanciam do real.
Leio nos jornais que a população de rua cresceu
em Belo Horizonte. O número de pessoas que vivem nas
ruas aumentou 27% (vinte e sete por cento) em oito anos. Triste
constatação! Ver morar debaixo de um viaduto
é diferente de morar debaixo de um viaduto, porque
a segunda situação envolve recém - nascidos
e idosos convivendo com ratos, baratas, formigas, infiltrações,
passando fome, enfrentando calor ou frio, e outras dificuldades
que o passante não sente. Não somos todos iguais
nem perante a lei, nem à vida. Há distinções.
Já erramos demais! Impossível perseverar no
erro.
De tudo fica a certeza de que
captar o significado é ir além das palavras,
é ler, ver em todos os sentidos, o mais amplo e próximo
possível. Poderemos nos aproximar de tal modo da realidade
que as ações sejam para incluir e constituam
o princípio, antônimo de todas as práticas
de exceção”,
José Maria Theodoro
- theodoro_4@yahoo.com.br
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