Um dos mais
belos exemplos do milagre da educação é
a exposição, em São Paulo, chamada "Percepção
do Visível", feita por fotógrafos cegos
--as fotos estão no www.catracalivre.com.br.
Como, afinal, um cego pode não só ter a vontade
mas efetivamente registrar as imagens?
Esse é daqueles casos que deveriam ser estudados por
todos os interessados na arte de ensinar. O guia daqueles
fotógrafos se chama João Kulcsár, que
estudou em Harvard num laboratório (Projeto Zero) que
dissemina pelo mundo a idéia de que o ser humano é
dotado das mais diferentes inteligências. Saber mover
o corpo é uma delas. Mas a escola, em geral, só
cobra uma delas, baseada no raciocínio lógico-matemático.
Por isso, João acreditou que aqueles deficientes visuais
usariam outras percepções que lhes são
mais aguçadas --o tato, o olfato e a audição.
É o que se nota nas imagens das frutas.
Quando o professor acredita nos mais diversos potenciais
de um aluno, consegue lhe dar atenção e transformar
a curiosidade em algum resultado concreto, milagres acontecem
--até cegos tiram fotos.
Mas quando acontece o contrário, o aluno não
é estimulado, não tem um professor para fazer
da curiosidade aprendizado --pior, é chamado de burro--,
até quem enxerga passa a não ver nada. É
o que, geralmente, vem acontecendo, especialmente nas redes
públicas.
O grande desafio da nação é colocar,
junto das crianças, educadores capazes de gerenciar
curiosidades. O resto é detalhe.
Coluna originalmente
publicada na Folha Online , editoria Pensata.
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