Barack Obama
está sendo pressionado a matricular suas duas filhas
numa escola pública de Washington --talvez seja mais
fácil um negro se eleger presidente do que ele aceitar
essa pressão. Afinal, as escolas públicas daquela
cidade são conhecidas pelo péssimo desempenho,
violência, drogas, especialmente entre os negros.
O que me intriga nesse debate é o fato de que a capital
da nação mais poderosa do mundo tem dificuldade
de lidar com a violência de seus alunos --e daí
se vê a dificuldade que temos e vamos continuar tendo
no Brasil, onde não dispomos, nem remotamente, de tantos
recursos.
Por isso, recomendo a leitura de um livro chamado "A
Pedagogia do Cuidado", do educador Celso Antunes, que
está sendo lançado nesta semana, sobre a experiência
da Casa do Zezinho, que fica no chamado "triângulo
da morte" de São Paulo. São relatos de
casos de educação contra a barbárie,
fazendo com os que jovens se expressem e se encantem pelo
conhecimento.
Um exemplo é a de uma menina que se prostituía
na favela. Num truque pedagógico, Dagmar Garroux ofereceu-lhe
então um treino para ser prostituta com muito dinheiro,
preparada para trabalhar em Brasília. Isso implicou
estudar mais e cuidar do corpo para valorizar a "mercadoria".
A menina fez ensino médio, entrou num curso pré-vestibular,
passou na USP e se formou em odontologia.
O caso, que está detalhado no www.catracalivre.com.br,
mostra que não basta dinheiro para enfrentar a violência.
É preciso oferecer espaço de sonho --por isso,
a ex-futura-prostituta de Brasília virou dentista.
E também um negro órfão, criado por uma
avó, se tornou presidente.
Coluna originalmente
publicada na Folha Online, editoria Pensata.
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