As habilidades
de Daniela Thomas no cinema servirão para relatar a
paixão pelo futebol em um museu
O futebol entrou na história de Daniela Thomas e agora
ela se prepara para entrar na história do futebol.
Um encontro improvável. "Nunca senti cumplicidade
com essa emoção tão brasileira. Minha
vivência era apenas como mãe e mulher de torcedores."
Até o final do mês, ela vai mostrar como suas
habilidades em cenografia e direção, conhecidas
no cinema, no teatro e em várias exposições,
servem para relatar a emoção pelo futebol.
No mesmo mês em que é lançado comercialmente,
o filme "Linha de Passe", do qual Daniela é
uma das diretoras, será inaugurado, no estádio
do Pacaembu, o Museu do Futebol.
Uma das responsáveis pelo desenho desse museu, ela
fez uma imersão na emoção pelo futebol
para conseguir sintetizá-la em seus cenários,
com recursos tecnológicos.
Entre seus parceiros no projeto está Felipe Tassara,
seu marido, com quem já montou várias exposições.
Nesse caso, o marido ajudou no aprendizado da emoção.
"Ele é um palmeirense apaixonado."
A seu favor, nesse projeto, está o fato de não
ter sido uma aluna exatamente exemplar e sempre ter feito
da cidade uma espécie de escola.
"Minha casa era sempre mais interessante do que a escola."
Explicável: ela é filha do Ziraldo, cuja paixão
é ensinar às crianças o prazer da leitura.
Daniela não conseguiu terminar nenhum curso superior.
Entrou numa faculdade de história, no Rio, depois fez
cinema em Nova York e literatura em Londres. "Desde a
adolescência, sou rata de museu. Conheço os mais
importantes museus do mundo."
O museu que vai surgir no Pacaembu se propõe a ir muito
além de uma emoção -sua principal proposta
é ser uma sala de aula sem nenhum jeito de sala de
aula, que sirva para os estudantes conhecerem melhor a história
do Brasil. A exposição ajudará a debater,
por exemplo, a questão do negro. "Mais do que
a comemoração do futebol, será a comemoração
da cidade."
Daniela sabe que será um dos museus mais visitados
do país. Mas está insegura justamente por causa
da emoção. Teme que as torcidas sintam que seus
times não foram devidamente representados e que ela
fique no meio daqueles intermináveis debates. "Estou
me sentindo como um juiz entrando em campo, apontado pelas
torcidas." Não fosse assim, podia ser até
um museu, mas não seria do futebol.
Mas já pode comemorar uma nova habilidade, até
pouco tempo, inimaginável em seu currículo.
"Hoje já sou capaz de ir a qualquer boteco discutir
futebol."
Coluna originalmente
publicada na Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.
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