Sob um
jequitibá-rosa, velhinhos vão ver se a invenção
para proteger a árvore em uma obra do metrô funciona
IMAGENS DE UMA SÃO PAULO ANTIGA , com meninos brincando,
velhos jogando dominó e casais namorando na praça,
vêm sobrevivendo ao caos urbano sob a sombra de um jequitibá-rosa,
de 15 metros de altura, do tamanho de um prédio de
cinco andares. Essas imagens estavam ameaçadas no final
do mês passado, prestes a ceder espaço à
modernidade do metrô. "Dificilmente a árvore
iria sobreviver", conta o arquiteto Eduardo Maggi, que,
em parceria com engenheiros e botânicos, está
desenvolvendo uma invenção para tentar preservar
o jequitibá-rosa.
Formado em arquitetura no Mackenzie, Eduardo Maggi, 53, trabalha
há 30 anos no setor de obras do metrô. "Já
enfrentei todo tipo de obstáculo" - mas nunca
o de ter de salvar apenas uma árvore em uma operação
que, à primeira vista, parecia impossível. "A
avaliação inicial era que não havia alternativa:
era a árvore ou o metrô."
O traçado da linha 2-verde do metrô passava,
na Vila Prudente, ao lado da praça Padre Lourenço
Barendse, de 550 metros quadrados, na zona leste. Os engenheiros
fizeram todos os cálculos e decretaram: a árvore
tinha de sair. Temeu-se, porém, uma revolta da comunidade,
acostumada há tantas décadas com aquela paisagem
bucólica.
Com longo aprendizado de revoltas comunitárias por
causa dos transtornos das obras do metrô, Eduardo Maggi
soube pelos botânicos que seria muito arriscado transplantar
o jequitibá-rosa, a maior árvore nativa brasileira,
símbolo do Estado de São Paulo. Especialistas
dizem que aquela espécie corre risco de extinção.
Em suma, o metrô teria de conviver, na marra, com o
jequitibá-rosa o que, para muitos engenheiros, soaria
como uma bobagem ecológica diante dos benefícios
que o metrô traz ao transporte público.
Das pranchetas dos arquitetos, dos engenheiros e dos botânicos,
saiu um projeto, nunca antes imaginado, que deve ser realizado
pelo metrô: uma jardineira será suspensa numa
vala, enquanto as escavações estiverem sendo
realizadas para a passagem do trem. Terminada a obra, será
jogada terra, e tudo, pelo menos na superfície, poderá
voltar ao normal.
Faltava resolver um problema: o imenso tamanho das raízes.
Foi quando se decidiu que, naquele ponto, a passagem seria
dez metros mais profunda para que o trem não abatesse,
com o tempo, a árvore.
Uma platéia atenta saberá se a invenção
funciona ou não. Os velhinhos, sentados no banco da
praça, estarão observando. E o farão
debaixo da sombra da possível vítima.
Veja as fotos do jequitibá-rosa:
Foto
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Foto
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Foto
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Coluna originalmente publicada na
Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.
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