É
a primeira vez que se tem notícia, no Brasil, de um
passeio ciclístico exclusivo para gays
Gay assumido, André Hidalgo sempre foi um apaixonado
pela noite paulistana e, mesmo nos períodos mais violentos
enfrentados pela cidade, nunca deixou de caminhar a pé
durante a madrugada.
Habitualmente voltava para casa quando o dia amanhecia. Antes,
porém, sempre tomava um café com leite e comia
um pão torrado na chapa em alguma padaria. Os prazeres
da noite, da cidade e de sua opção sexual se
juntaram para que ele inovasse a paisagem paulistana: criou
um movimento de gays que andam de bicicleta.
A idéia nasceu porque, nos últimos oito anos,
André acrescentou o ciclismo à sua galeria de
prazeres paulistanos. "Virou uma paixão. Pedalo
horas e horas sem cansar. Pelo caminho, vou redescobrindo
a cidade, sentindo o vento no rosto, aliado ao exercício
físico." Uma de suas diversões preferidas
é pedalar de madrugada no Minhocão (o elevado
Costa e Silva), de onde, segundo ele, se tem uma "visão
especial".
É a primeira vez que se tem notícia, no Brasil,
de um passeio ciclístico exclusivo para gays. "É
bem a cara da cidade", acredita André, que nasceu
em Itararé, uma pequena cidade na fronteira entre São
Paulo e Paraná.
Não é difícil para André Hidalgo
fazer agitação. Além de ter um clube
noturno, ele é o fundador da Casa dos Criadores, uma
espécie de incubadora para jovens estilistas, que,
gratuitamente, têm a chance de expor os seus trabalhos.
De lá saíram várias estrelas da moda
brasileira.
André queria mais companhia em seus passeios ciclísticos.
Pela internet, arregimentou o grupo, estabelecendo algumas
condições para os seus integrantes: gostar de
exercício, apreciar passear por São Paulo e,
obviamente, ser gay. "Não somos militantes, mas,
queiramos ou não, fazemos política o tempo todo."
Por causa dessa visão política, segundo ele,
o grupo deveria ser exemplar nas medidas de segurança.
Ninguém pode participar se não tiver 18 anos,
se não usar capacete ou se não dispuser de farol.
"Queremos mostrar respeito pela cidade."
Estava prevista para ontem à noite a terceira versão
do passeio noturno, que se inicia na avenida Paulista às
20h30 e percorre as ruas do centro.
Habituado ao mundo da moda, André se sente, de certa
forma, não apenas na rua mas numa passarela -e aposta
que a idéia vai acabar "pegando", como ocorreu
com vários estilistas que passaram pela Casa dos Criadores.
Imagina, por isso, que, em breve, as rotas vão incluir
lugares fora da cidade.
Diferentemente do que se faz no ambiente fashion, ele preferiu
não dar nome estrangeiro ao passeio. Embora o nome
sugerido fosse "Gay Bikes SP", preferiu algo mais
direto: "Movimento Gay".
Coluna originalmente publicada na
Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.
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