Até
pouco tempo atrás, a imagem das ONGs estava associada
à generosidade e à eficiência. Agora,
associa-se, graças aos escândalos que aparecem
na mídia, à malandragem típica da política.
A verdade sobre os escândalos, porém, não
está clara.
A imensa maioria das pessoas que apoiaram e apóiam
entidades não-governamentais queria fazer a diferença
nas suas comunidades, mas, ao mesmo tempo, ficar justamente
longe da política, terreno em que corrupção
e incompetência são rotina.
O ambiente mudou e o resultado dos escândalos é
o surgimento de uma CPI para investigar as entidades não-governamentais.
O ambiente mudou exatamente por causa da calhordice política.
É bom que se investigue qualquer entidade com dimensão
pública. Quanto mais investigação, melhor.
O chamado terceiro setor cresceu muito, misturando os mais
diferentes tipos de entidade sem fins lucrativos, desde um
templo evangélico, um sindicato patronal ou de trabalhadores,
até um grupo que cuida de crianças com HIV.
Há anos, fala-se na "pilantropia".
O que provocou o escândalo, no entanto, foi a forma
como os partidos (e aqui se incluem o PT e o PSDB) usaram
o terceiro setor como recurso para ajudar aliados, a começar
dos sindicatos. Basta ver que o que está na mira da
CPI são grandes transferências de recursos a
entidades suspeitas de alinhamento partidário --e,
por isso, beneficiadas não por sua competência.
Não é à toa que muito do dinheiro dado
aos sindicatos para formação profissional foi
desperdício. A junção de incompetência
com esperteza e falta de fiscalização só
poderia mesmo resultar em escândalo.
É uma pena que um movimento generoso e com grandes
conquistas de direitos de mulheres, crianças, idosos,
negros, trabalhadores, portadores de deficiências, seja
contaminado pela malandragem. Tudo isso talvez desestimule
a participação dos brasileiros em desafios coletivos,
especialmente dos jovens --esse é mais um custo da
calhordice política.
Coluna originalmente
publicada na Folha Online, editoria Pensata.
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