Em entrevista
à Folha, o cientista político
norte-americano Charles Murray disse que a genética
seria uma das explicações para a suposta inteligência
superior dos judeus. Será?
Na condição de judeu, não acredito nessa
influência genética. Não é só
porque, para mim, superioridade genética e barbárie
se confundem na história. Mas, como alguém que
trabalha com educação, acredito que exista uma
cultura específica que ajude na projeção
de um povo que, apesar de ter apenas 12 milhões de
pessoas, tem 25% dos ganhadores do Prêmio Nobel.
O que existe entre judeus (e não só entre eles)
é uma reverência obsessiva pelo conhecimento,
que vem de gerações. É o chamado povo
do livro. O rabino, a pessoa mais importante da comunidade
religiosa, não tem força por ser um intermediário
com Deus, mas por ser um intérprete das leis, ou seja,
um intelectual. Livros sagrados são feitos de perguntas.
O ritual iniciatório do judeu não é
matar um guerreiro ou passar por privações.
Mas é ler um livro (a Torá). Ou seja, se quiser
virar adulto terá de saber ler em pelo menos uma língua.
O analfabetismo sempre foi muito baixo entre os judeus, o
que assegurou uma rede de escolas.
A educação não é vista como uma
responsabilidade apenas da escola. Mas, em primeiro lugar,
da família e, depois, da comunidade. Educa-se em casa,
na sinagoga e também na escola. Aprende-se, portanto,
todo o tempo e em todos os lugares.
Como o judeu é o povo por mais tempo perseguido da
história da humanidade, desenvolveu-se a sensação
do desafio permanente. Isso se traduz na idéia de que
o estudo é a melhor defesa --e também a coisa
mais segura para ser carregada.
Nessa junção dos capitais humano e social,
tem-se a receita não do desempenho intelectual de um
povo, mas da força divina da educação,
replicável por qualquer agrupamento humano.
Coluna originalmente
publicada na Folha Online, editoria Pensata.
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