A mãe
de Lula era analfabeta, pobre e tinha vários filhos;
o pai era omisso e violento. Isso significa que aquela criança
corria um risco de se tornar um marginal violento. Aparentemente,
a bem-sucedida trajetória do presidente desmontaria
a idéia de que existe uma relação entre
violência e planejamento familiar, exposta pelo governador
Sérgio Cabral que, entre as várias medidas para
aumentar a segurança, defendeu o aborto. E se tivessem
abortado Lula, sob argumento de que pobre não deveria
ter muito filho?
Lula é um magnífico caso a justificar a associação
entre planejamento familiar e violência. A julgar por
várias de suas entrevistas, a mãe teve em sua
vida um papel decisivo para que ele estudasse. Aí está
a questão essencial: Lula sentia-se acolhido, desejado
e apoiado, recompensado a ausência paterna.
O problema é quando a mãe tem uma gravidez
indesejada e vê um filho como estorvo, o que se traduz
em omissão e agressões. Some-se a essa violência
doméstica o ambiente hostil fora de casa, com uma cadeia
de rejeições, para se entender a "fábrica
de marginais". Note-se que o período em que Lula
era adolescente ainda havia abundância de emprego.
Se tivessem abortado Lula, perderíamos um personagem
associado, gostem ou não dele, ao avanço da
democracia no país. Mas se ele não contasse
com uma mãe acolhedora, a chance de estudar (notem
a importância com que ele fala de seu curso no Senai)
e ter um emprego, provavelmente aquela inteligência
seria usada para a violência.
Resumindo: ajudar as mães a não terem filhos
indesejáveis é um ingrediente, entre vários
como a chance de estudo e emprego, para a segurança
social.
***
Coloquei no site
histórias de jovens pobres que, vindo de escolas
públicas, estão demonstrando excepcional desempenho.
Por trás deles, há sempre apoio da família
junto com o de um professor.
Coluna originalmente publicada na
Folha Online, editoria Pensata.
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