Está
gerando interesse na mídia a monumental repercussão,
verificada pelo número de cartas enviadas à
Folha, sobre o artigo do apresentador Luciano Huck, no qual
relatou como foi vítima de assalto em que levaram seu
Rolex. Raras vezes um artigo, publicado neste espaço
nobre da página 3, produziu tanto barulho. Existe aí
uma dica sobre jornalismo.
Tirando o fato de Huck ser uma celebridade, há uma
tendência, visível em todo o mundo, de maior
valorização do local, do cotidiano, do que está
mais próximo do consumidor de notícias. Talvez,
quem sabe, seja até uma reação à
impessoalidade da globalização. No caso do Brasil,
ainda temos uma agravante: o noticiário de política
está insuportável, limitado, essencialmente,
a denúncias de corrupção e articulações
sucessórias distantes. É como se fosse uma mesma
novela sem fim, na qual já confundimos todos os personagens.
O relógio de Huck é, neste caso, mais do que
um relógio. Traduz a insegurança, o caos urbano,
a desigualdade social, o desemprego, a impunidade, a educação,
a falta de democracia e a miséria. Os leitores estão
sedentos para discutir esses temas, mas menos pelo que vem
embolado de Brasília e mais pelo que sai das ruas.
Tenho visto jovens, muitas vezes acusados de alienados, despertarem
rapidamente para o debate sobre coisas públicas quando
a política se traduz em seu cotidiano, trazida de forma
apropriada para a sala de aula.
Um dos problemas de nós, jornalistas, é que
vivemos muito no meio de jornalistas.
***
Em nada me interessa o trabalho televisivo de Luciano Huck,
acho -o mais uma daquelas bobagens midiáticas para os jovens.
Sobre seu projeto de inclusão de jovens, promovido pelo Instituto
Criar, é de ótima qualidade --e um exemplo de responsabilidade
individual.
De resto, a lei é feita para proteger ricos e pobres.
Não se pode roubar um Rolex de um milionário
nem o leite de uma mulher que sai da padaria nem a moto de
um motoboy.
Coluna originalmente publicada na
Folha Online, editoria Pensata.
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