André
Pasqualini decidiu criar um mapa cicloviário entrevistando
ciclistas para descobrir as melhores rotas
Da sua casa, no bairro do Campo Limpo, até o trabalho,
na Vila Olímpia (ambos na zona sul da capital paulista),
o analista de sistemas André Pasqualini ficou, por
várias vezes, preso em congestionamentos que o deixaram
quase duas horas no trânsito.
Para não correr mais o risco de atraso - e não
ter de ficar parado -, ele prefere andar de bicicleta pelas
ruas da cidade. O caminho sempre está livre e percorrê-lo
não leva mais de 35 minutos. "Já fiz o
trajeto em 20 minutos", orgulha-se.
Aos poucos, ele aprendeu os atalhos e as providências
para diminuir os riscos, ganhando tempo e segurança.
Nasceria aí a inspiração para utilizar
de um novo jeito seus conhecimentos de analista de sistema,
desta vez longe do escritório.
Com essa experiência, Pasqualini se transforma em um
dos símbolos do Dia Mundial Sem Carro, mobilização
que ocorrerá no próximo sábado em ao
menos 56 cidades do Brasil -outras ainda podem aderir. "Sou
apaixonado pela bicicleta e pela cidade", afirma Pasqualini.
Seu encanto com os passeios de bicicleta começou
em 1992, quando um de seus colegas de trabalho, um ciclista
inveterado, mostrou-lhe as fotos que tirava no caminho, observando
detalhes quase clandestinos para quem estivesse dentro de
um carro. Aventurou-se pelas mais diferentes rotas: durante
15 dias, por exemplo, percorreu o rio Tietê.
O prazer de Pasqualini, porém, estava mesmo em revelar
os atalhos urbanos. Ganhou o hábito de ir ao trabalho
pedalando. Para trajetos maiores, vai com uma bicicleta dobrável
e pega o metrô.
De tanto percorrer a cidade -e ver tantos acidentes com ciclistas-,
Pasqualini resolveu criar um mapa cicloviário entrevistando
ciclistas para descobrir as melhores rotas da cidade de São
Paulo.
O mapa começa a ser colocado no site criado por Pasqualini
(www.ciclobr.com.br),
onde, aliás, estão as imagens de um caminhão
que quase o atropelou. "Nosso maior problema é
o desrespeito."
A falta de ciclovias na cidade já foi alvo até
de um protesto bem-humorado no mês passado, quando ciclistas
de São Paulo pintaram com tinta branca um bicicleta
na faixa da direita de avenidas da cidade, criando ciclovias
por conta própria. O resultado do protesto pode ser
conferido em vias como as avenidas Paulista (região
central) e Sumaré (zona oeste).
Com o seu conhecimento em internet e em análise de
sistemas, Pasqualini quer produzir um mapa interativo com
diferentes oportunidades de trajeto -os ciclistas, conectados
por satélite, ajudarão a manter o mapa atualizado,
enviando dicas, algumas das quais em tempo real.
O projeto vai mais longe. Pasqualini quer entregar o mapa
das rotas à Prefeitura de São Paulo, na esperança
de que seja montado um plano de ciclovias, com a implantação
de sinais e de espaços exclusivos. "O sonho de
uma criança deveria ser ter uma bicicleta, não
um carro", diz o analista de sistemas.
Simulação feita por André Pasqualini:
Avenida
Carlos Caldeira (zona sul) atualmente
A
mesma avenida com uma ciclovia
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Coluna originalmente publicada na
Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.
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