Quase ninguém
conhece o Morro do Piolho. É uma área pobre
do norte da cidade de São Paulo, com pouco saneamento
básico, até há pouco dominada por traficantes.
Com altos índices de violência, era uma espécie
de terra de ninguém -- ou, mais precisamente, terra
de marginais.
A polícia nem sequer entrava lá -- dizia-se
que as vielas e escadões eram os obstáculos
geográficos que impediam o fluxo de viaturas. Agora,
o Morro do Piolho está prestes a sair do anonimato:
candidata-se a entrar para a história como uma escola,
de impacto nacional, de combate ao crime.
Lançou-se em um dos bairros que circundam o Morro
do Piolho -- o Jardim
Elisa Maria -- uma operação jamais vista
contra a violência no Brasil. Jamais vista porque se
articularam secretarias de Esportes, Educação,
Justiça, Tecnologia, Assistência Social, Transportes,
Infra-Estrutura, Saúde e Segurança da prefeitura
e do governo estadual.
Não há registro de que tenha sido realizada,
no país, uma experiência tão complexa
para garantir a segurança da população.
É pioneira a iniciativa de envolver tantos parceiros
num mesmo foco --sem contar que à esfera pública
se arregimentaram organizações locais.
Devido à complexidade da experiência, o Morro
do Piolho entra para a história do combate ao crime.
Afinal, cuida-se da escola e também do seu entorno:
iluminação, limpeza dos córregos, postos
de saúde, concessão de bolsas de renda mínima,
cursos profissionalizantes, policiamento comunitário.
Se for um fracasso, ou seja, se depois da saída da
polícia, voltarem os mesmos índices de criminalidade,
terá falhado um programa que envolve tanta gente com
habilidades tão diferentes e complementares, atuando
na repressão e na prevenção. Se isso
ocorrer, teremos de aprender como não se deve gerir
um plano de segurança.
Se der certo, o Morro do Piolho poderá ser a melhor
invenção brasileira de um modelo disponível
de integração de forças para gerar segurança
nas regiões metropolitanas brasileiras.
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Coluna originalmente
publicada na Folha Online, editoria Pensata.
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