Greicy
Karla de Faria aprendeu a dar vida a uma escola, misturando
os currículos com os saberes locais
A adolescente Greicy Karla de Faria já sabe o que fazer
da sua vida profissional: ser professora. Antes de entrar
na faculdade, ela entrou involuntariamente em um curso prático
sobre como salvar uma escola em estado terminal -e dessa lição
sai como uma professora precoce.
Ameaçada de fechamento, a escola pública em
que ela estuda arrastava-se numa crise, visível por
todos os cantos: alunos em debandada, paredes sujas, desânimo
dos professores. Salas de aula vinham sendo entulhadas com
material de arquivo. "Eu já estava procurando
outro lugar para estudar", conta Greicy. No começo
deste ano, integrou um grupo de alunos, ex-alunos, pais e
professores dispostos a fazer uma última tentativa
para evitar o fechamento da escola estadual Carlos Maximiliano
(mais conhecida como Max), em Pinheiros (zona oeste de São
Paulo). "Parecia uma causa perdida. A cada dia, mais
espaço era tomado para servir de depósito."
Saíram batendo de porta em porta à procura de
ajuda por todos os lados -assim, quem sabe, conteriam a debandada
dos alunos. Um dos primeiros gestos foi, em mutirão,
pintar os muros com cores fortes e alegres. Professores se
dispuseram a criar um plantão de dúvidas para
recuperar os alunos em português e matemática.
Jovens aceitaram ler textos clássicos adaptados ao
cotidiano. Especialistas em comunicação montaram
programas para o laboratório de informática.
Nas salas vazias, ocorrerão agora oficinas de cinema,
de dança e de "customização"
de roupas. Com doações, um galpão usado
como depósito está sendo reformado e se transformará
em um teatro também aberto à comunidade. Atores
poderão usá-lo desde que façam do palco
uma extensão da sala de aula e ajudem a enriquecer
o currículo tradicional. Uma orquestra jovem de música
erudita já avisou que fará, naquele teatro,
concertos abertos para estimular a descoberta de talentos.
Ainda não se sabe se todo esse esforço vai surtir
efeito, se os alunos voltarão e, mesmo que voltem,
se haverá melhoria de desempenho. Mas, diante de todo
esse esforço, a secretária estadual da Educação
mandou avisar, no mês passado, que não há
intenção de fechar o Max. "Mudou nosso
ânimo." Além do ânimo, melhorou a
perspectiva de Greicy. Ela foi seduzida pela idéia
de ser professora quando, nas férias, deu oficinas
de arte a alunos de escolas públicas e, depois, foi
monitora em um programa de circo. Com o Max, aprendeu a dar
vida a uma escola, misturando os currículos com os
saberes locais -é algo que muita gente com pós-graduação
só conhece pelos livros.
O melhor estímulo, porém, foi bem mais concreto.
Um empresário soube do envolvimento de Greicy no grupo
que salvava a escola e ofereceu-lhe uma bolsa para estudar
pedagogia.
Coluna originalmente
publicada na Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.
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