O exotismo
rendeu a Hector uma fonte de renda; ele se tornou um misto
de paisagista com astrólogo
Apaixonado pelo cultivo de plantas, o físico cubano
Hector Othon acabou morando dentro de um viveiro.
Inicialmente a área de plantio se limitava ao jardim
de sua casa, no Butantã, mas as 500 espécies,
muitas delas medicinais, foram se espalhando e invadindo os
quartos, banheiros, corredores e cozinha. Atualmente, naquele
misto de casa e viveiro, ele produz um rastro verde pela cidade
de São Paulo.
Há 15 anos, Hector espalha mudas e sementes pelas praças
e canteiros dos mais diferentes bairros. Depois, se distrai
fazendo passeios a pé para conferir sua obra anônima,
disseminada em lugares como a praça do Pôr-do-Sol,
a avenida Sumaré ou até num minúsculo
canteiro em frente ao Anhangabaú. "Esse hobby
é uma coisa instintiva que me faz bem."
Hector conheceu pela primeira vez o Brasil em 1982, quando
participou de um congresso internacional de física.
O que lhe interessou de fato não foram as exposições
sobre teorias quânticas, mas uma atriz por quem se apaixonou.
Retornou a Havana, mas quatro meses depois já estava
de volta, por causa de um duplo caso de amor à primeira
vista. Pelo Brasil e pela mulher. "Não penso mais
em voltar, com ou sem Fidel."
Além de abandonar o país, ele deixou também
a física. Dedicou-se aos estudos de áreas aparentemente
sem nenhuma conexão como astrologia e agricultura.
Mas, com o tempo, fez-se, para ele, a conexão. No Brasil,
desenvolveu uma visão mística em relação
à natureza, o que, para ele, tinha raízes na
infância. Quando era criança, acompanhava a mãe,
Obília Gomes, que costumava rezar à sombra de
uma paineira, convencida de que, ali, se entrava em contato
com a espiritualidade. "Foi aí, provavelmente,
que comecei a acreditar nos poderes exóticos das plantas."
O exotismo rendeu-lhe uma fonte de renda. Hector faz mapas
astrais e recomenda plantas que teriam supostamente mais a
ver com cada indivíduo, com base na data de aniversário.
Tornou-se, então, um misto de paisagista com astrólogo.
"Acredito mesmo que as plantas influenciam o estado das
pessoas."
Essa terapia ecológica que, de certa forma, Hector
aplica na cidade, ao espalhar suas sementes, agora é
beneficiada pelas redes virtuais. Seu caso de amor por Havana
foi trocado por São Paulo. Descobriu na internet uma
confraria virtual de indivíduos que, como ele, têm
a paixão pelo cultivo de plantas e se dispõem,
pelo correio, a trocar sementes. "É como se tivéssemos
criado um imenso viveiro."
Com a rede verde, ele ganhou um estoque de sementes de cedro.
Muitas usada para produzir santos, essa madeira, segundo Hector,
inspira sobriedade e equilíbrio. Vai plantá-la
numa pequena praça no centro da cidade, bem em frente
ao edifício Copan. Será um bom teste para medir
os efeitos supostos cósmicos daquela árvore.
Bem à sua frente, está a Love Story, um das
referências do underground sexual paulistano.
Veja as fotos do viveiro:
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Coluna originalmente
publicada na Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.
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