Começa
nesta semana um programa gerido por médicos da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp) para diminuir o espantoso
número de estudantes que, por causa de doenças
simples de serem tratadas, têm dificuldades nas escolas.
O programa, patrocinado pela Prefeitura de São Paulo,
deve atingir todos os alunos da rede municipal.
Faz dois meses que os médicos da Unifesp (antiga Escola
Paulista de Medicina) desenvolvem um piloto numa escola e
encontraram uma galeria de horrores. É como se crianças
estivessem apodrecendo por falta de tratamento médico.
Algumas doenças, como baixa acuidade visual e problemas
de audição, são de fácil cura.
A taxa de sobrepeso é de 30%; 60% têm cáries.
O que os médicos estão constatando ocorre em
todas as escolas brasileiras --e ocorre porque não
se consegue um melhor entrosamento entre as áreas de
educação e saúde. Estamos falando aqui
de um problema que, segundo as estatísticas, atinge
40% dos alunos da rede pública, algo como 25 milhões
de estudantes. Sei de meninos tratados como surdos, mas que
apenas não limpavam os ouvidos. E de outros que, considerados
retardados pelos professores, tinham distúrbios psicológicos
provocados pela violência doméstica. Há
disléxicos considerados incapazes e anêmicos
chamados de preguiçosos.
Não é fácil eleger a maior imbecilidade
brasileira, tamanha a oferta de candidaturas. Pelo impacto
social, meu voto vai pela falta ou precariedade de programas
de saúde escolar. Só um estúpido completo
é capaz de imaginar que vamos melhorar nossos indicadores
educacionais com crianças que não ouvem e não
enxergam direito.
PS- Se Gilberto Kassab conseguir tocar esse projeto, terá
dado sua maior contribuição à cidade
de São Paulo. Muito maior do que a do projeto Cidade
Limpa que, apesar de seus méritos, é uma obra
de fachada. Não existe pior poluição
do que a falta de saúde e a falta de educação.
Se bem-sucedido (o que, em se tratando de poder público,
é sempre uma dúvida), esse modelo poderá
ser diseminado pela Unifesp em todas as grandes cidades, onde,
em geral, a saúde escolar é, quando existe,
pífia.
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Coluna originalmente
publicada na Folha Online, editoria Pensata.
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