Uma das melhores
notícias para a educação brasileira é
a crescente sofisticação dos exames para entrar
nas faculdades, exigindo mais reflexão e menos "decoreba".
Deve-se comemorar a mudança porque, afinal, os ensinos
médio e até fundamental passam a estimular cada
vez mais um currículo centrado na visão crítica
do aluno e em sua capacidade de associar idéias e informações,
conectadas a questões concretas.
A USP acaba de divulgar sua intenção de fazer
vestibulares seriados; ou seja, o estudante vai enfrentar
três provas, uma ao fim de cada ano do ensino médio.
Mais uma vez, será cobrada reflexão, o que exige
formação geral. É o fim da mediocridade
dos cursinhos e dos professores que ensinam matérias
sem nenhuma ligação com outras matérias
e, muito menos, com o cotidiano.
O que está em jogo não é fazer bons
alunos, mas bons profissionais, capazes de sobreviver num
mundo de inovações cada vez mais velozes e no
qual se demanda a habilidade da auto-aprendizagem. O problema
é que, muitas vezes, os professores estão longe,
muito longe, do mercado do trabalho e ficam ensinando coisas
inúteis; seu poder deriva não da relevância
do que ensinam, mas da nota e do vestibular.
Os novos vestibulares estão desmontando esse poder.
O papel do professor deve ser o de gerenciador de curiosidades.
Até porque todo o conhecimento disponível já
está na internet.
Empanturrar a criança e o jovem com informações
sem contextualização e, pior, sem que os alunos
sejam protagonistas, é uma fórmula infalível
para produzir, no presente, um ser humano infeliz diante dos
prazeres da descoberta intelectual e, no futuro, um trabalhador
incompetente. Ou um desempregado.
Coluna originalmente
publicada na Folha Online, editoria Pensata.
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