Alexandre
Herchcovitch ficou convencido de que a melhor escola é
aquela que nunca separa fazer e saber
Alexandre Herchcovitch tinha 12 anos
de idade e nem imaginava que algum dia seria estilista -muito
menos com fama internacional- quando começou a trabalhar
em seu primeiro ateliê de moda. Era o quarto de seus
pais. O menino adorava observar a mãe, Regina, vestir-se.
"Eu ficava dando opiniões." A mãe,
então, ensinou-o a costurar e, logo, estaria usando
as roupas feitas pelo filho. "Minha mãe era simultaneamente
professora e modelo."
Surgia naquele quarto de uma família
de classe média baixa o primeiro traço de um
sonho ainda não realizado do estilista: criar uma escola
experimental de moda, conectada ao que existe de mais contemporâneo
nas tendências mundiais. "Estou me preparando para
fazer desse sonho realidade."
Preparar-se significa arrumar tempo
para se dedicar mais ao ensino e, assim, ajudar a formar profissionais
da moda.
Para medir a escassez de tempo de
Herchcovitch, basta ver as suas atividades na São Paulo
Fashion Week, que começa hoje, na qual estará
à frente de quatro apresentações de diferentes
marcas. Seu nome está associado a lojas no Brasil e
no exterior, tem 138 produtos licenciados, que incluem telefone
celular, sandália e xícaras. Suas criações
estão anualmente na semana da moda de Nova York, onde
têm recebido elogios da crítica. Por fim, ele
comanda uma fábrica no bairro dos Campos Elíseos
(na região central da capital paulistana).
Conseguiu tempo, porém, para
fazer uma experiência, a convite do Senac, em parceria
com um programa da França: manter atualizados os professores
do curso de moda. "Meu papel seria fazer uma costura
entre o mercado e a sala de aula."
Ele percebeu que vários professores conhecem profundamente
a teoria, mas, trancados na sala de aula, distanciam-se do
mercado. "Resolvi fazer então encontros dos docentes
com quem está com a mão na massa."
Criou-se um problema para a escola.
Os alunos passaram a pressionar para ter encontros com o estilista.
Herchcovitch começou então a acompanhar duas
turmas, sempre fazendo a tal costura entre o mercado e a sala
de aula. "Eu já tinha visto como os estagiários
que trabalharam para mim tinham pouca noção
da realidade."
Muitos alunos, segundo ele, ainda acreditam no "glamour"
da moda. "Tento colocar os pés deles no chão",
diz.
Aqueles encontros com os jovens ensinaram-lhe
uma lição. "Estar em ambientes de aprendizagem
me dá energia e me faz querer inovar ainda mais."
E ficou convencido de que a melhor escola é aquela
que nunca separa fazer e saber.
Mais ou menos como o quarto em que
tinha Regina como mãe, modelo e professora. Imagina
que sua escola, em essência, seria um grande ateliê,
para simular todas as etapas da criação -o que
vai de ligar para o fornecedor até desenvolver um produto.
Coluna originalmente publicada na
Folha de S. Paulo, editoria Cotidiano.
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