Apesar da queda generalizada na
renda em todos os níveis de escolaridade de 1995 a 2004, ter
um diploma, de preferência acrescido de mestrado ou doutorado,
continua fazendo muita diferença no mercado de trabalho. Em
contrapartida, nesse mesmo período, diminuiu muito o diferencial
de quem tinha completado apenas o ensino médio, já que foram
esses os trabalhadores que mais perderam renda.
Esses dados são de uma tabulação da Pnad (Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios), do IBGE, feita a pedido da Folha
pelo sociólogo Álvaro Comin, do departamento de sociologia
da USP e do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento).
Em 2004, a Pnad indicava que o trabalhador com mestrado ou
doutorado completo tinha renda média de R$ 4.599. Esse valor
é 96,3% maior do que o verificado entre os que tinham completado
apenas o ensino superior, que era de R$ 2.342.
Apesar de a renda média de quem tem doutorado e mestrado
ter caído 24% de 1995, quando chegava a R$ 6.062, a 2004,
a distância que separa esses trabalhadores ultra-escolarizados
dos que haviam parado de estudar após completar a universidade
aumentou no período. Em 95, a diferença na renda média entre
os dois perfis de trabalhador era de 84,2%. Isso ocorreu porque
os que tinham nível superior tiveram queda maior do que os
com mestrado e doutorado (28,8%).
No entanto, nenhum trabalhador viu sua renda cair tanto no
período quanto o que possuía apenas o diploma de nível médio.
Por essa razão, o grande degrau de rendimento continuava sendo
do ensino médio para o ensino superior. A renda média dos
que conseguiram passar pelo funil da universidade era 173,3%
maior do que a dos que haviam parado no ensino médio.
O período de 1995 a 2004 é marcado por perdas sucessivas
na renda média dos trabalhadores em todos os níveis de escolaridade.
Esse quadro, no entanto, é mais acentuado para os que tinham
apenas diploma de nível médio. Em 1995, a renda média deles
era de R$ 1.335. Em 2004, caiu 35,8% e chegou a R$ 857.
Como a queda foi menos intensa no nível de escolaridade logo
abaixo (aqueles que completaram apenas o ensino fundamental),
o diferencial desse trabalhador no mercado de trabalho foi
o que mais diminuiu. Em 1995, ter diploma de nível médio significava
uma renda média 71,2% maior em relação ao ensino fundamental
completo. Nove anos depois, essa diferença caiu para 46,6%.
O trabalhador que teve a menor perda em sua renda foi o de
baixíssima escolaridade (menos de quatro anos de estudo),
cujo rendimento caiu 19%, ao passar de R$ 488 para R$ 395.
A segunda menor perda ocorreu entre os que completaram quatro
anos de estudo, com queda na renda de 22%. Esse segmento,
no entanto, foi o único a ter apresentado aumento na renda
quando se compara 2003 com 2004. Enquanto todos os outros
trabalhadores tiveram queda de um ano para o outro, esses
conseguiram aumentar seu rendimento médio em 2,4%.
Grande degrau
"Sem dúvida, o nível superior continua sendo o grande degrau.
O ensino médio é que já apresenta claramente sinais de perda
de importância, tanto que, quando olhamos os dados de desemprego
para os últimos 15 anos, vemos que é nesse segmento que ele
mais cresce", afirma Comin.
O economista Cláudio Dedecca, da Unicamp, afirma que a queda
do rendimento entre os trabalhadores com nível médio está
ligada também ao aumento de oferta de trabalhadores com essa
escolaridade e aos processos de contratação das empresas.
"Mesmo no caso de uma vaga que não exige tanta qualificação,
se a empresa, no processo de recrutamento, não faz exigência
de escolaridade, vão aparecer 5.000 trabalhadores para disputar
aquele emprego. Se ele coloca a exigência de nível médio,
a procura é menor, e o processo de escolha é mais simples
e menos caro", explica Dedecca.
Por causa das altas taxas de desemprego no período, Dedecca
afirma que o rendimento da população com nível médio caiu
porque eles passaram a ocupar postos de menor remuneração.
Marcelo de Ávila, economista do Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada), também ressalta uma "maior seletividade"
do mercado de trabalho, possível graças ao aumento da qualificação
da força de trabalho.
Segundo ele, todas as pesquisas de emprego mostram uma perda
efetiva no número de vagas de pessoas com até sete anos de
estudo (fundamental incompleto), o que revela a maior seletividade
das empresas na hora de contratarem. Tal movimento, diz, só
é possível porque há um grande contingente de pessoas com
nível médio no mercado de trabalho.
Com a grande oferta de trabalhadores de nível médio, diz,
a tendência é que esse grupo se empregue com salários menores,
o que reduz o rendimento médio desse grupamento. "Se uma empresa
dispensar um empregado com ensino médio, há 500 mil na fila
com o mesmo nível ou até mais qualificados", afirmou.
Para Ávila, o que leva uma pessoa hoje a fazer uma universidade
é, mais do que uma esperança de aumento salarial, a perspectiva
de aumentar sua empregabilidade: "Antes, as pessoas faziam
uma faculdade para aumentar seus salários. Atualmente, mais
anos de estudo não são garantia de um salário mais alto. O
que as pessoas buscam ao estudarem mais é ter uma chance maior
de se empregarem".
da Folha de S.Paulo
ANTÔNIO GOIS PEDRO SOARES
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