Há
tempos eu não gostava tanto de uma idéia lançada
por políticos brasileiros: criar um fundo extraído
da prospecção do petróleo para financiar
a melhoria da educação. Dessa vez, o projeto
vem apoiado por PT e PSDB, nas figuras de Lula e FHC.
Sou dos que têm sentimentos dúbios em relação
às descobertas de petróleo. Isso porque quando
se olha o mapa do mundo, encontramos uma relação
entre excesso de riquezas minerais, baixo desenvolvimento
humano, alta corrupção e atraso político
--fala-se que a riqueza fácil acaba por desistir o
investimento em capital humano e inovação. Basta
ver também como, no Brasil, muitos municípios
desperdiçam os royalties que ganham do petróleo
--aliás, a Petrobras faria um grande serviço
se promovesse cursos de gestão pública nas cidades
beneficiadas pelos royalties.
Um recurso carimbado para melhorar as escolas talvez sirva
se bem aplicado, para ajudar a tirar a educação
pública do caos, sofisticando e democratizando a nação
com a produção de cérebros. A inspiração
vem da Noruega, um dos países com maior desenvolvimento
social do mundo.
O ex-ministro Paulo Renato Souza sugeriu que o dinheiro fique
concentrado na melhoria da qualidade dos professores, elevando
salário e estimulando-os a estudar mais e dar melhores
aulas. Tocou no ponto essencial --o professor deve ganhar
mais a partir de seu desempenho.
Os detalhes ainda vão gerar muito debate. Mas, no
geral, esse fundo vai mostrar, se sair do papel (ou, no caso,
do subsolo) como se usa o petróleo não apenas
para poluir ou gerar riquezas fáceis, mas contra a
ignorância.
Coluna originalmente
publicada na Folha Online, editoria Pensata.
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