O Brasil
acaba de ganhar uma nova celebridade artística internacional
--Sandra Coverloni ganhou o prêmio de melhor atriz em
Cannes, o que só está abaixo do Oscar. Chamou-me
a atenção o seu passado: migrante, de família
pobre, moradora da periferia, com pouca escolaridade, estudante
de escola pública. Como conseguiu ir tão longe?
Tirando a área dos esportes, raros brasileiros conseguiram
vir de tão baixo e subir tão alto --um deles
é Lula.
Fui entrevistar Sandra apenas para confirmar minhas suspeitas
sobre o segredo de seu sucesso --e confirmei. O talento não
seria descoberto e lapidado se não houvesse outros
estímulos, a começar da família, para
superar tantos obstáculos. É o que ocorreu com
Lula, que repete sempre como a mãe, analfabeta, era
um estímulo permanente ao aprendizado.
O que tenho visto é que esse tipo de gente sempre
tem um exemplo bem próximo, muito próximo, de
um adulto com apego notável à importância
do conhecimento. Durante a conversa, ela me falou de seu avô,
um agricultor sem escolaridade que se tornou um veterinário
autodidata --um livro velho de veterinária era sua
bíblia. Também falou da inventividade de sua
mãe, Clarice, que, apesar do pouco estudo, tinha uma
eterna curiosidade e um rigor diante das obrigações
escolares da filha.
Por fim, Sandra me contou de uma de suas primeiras professoras
(Dona Gema), em escola pública, que fazia das aulas
uma festa, sempre trazendo coisas novas.
Um dos segredos do sucesso de Sandra é um dos segredos
do sucesso de uma nação --quanto maior for o
envolvimento dos pais com a educação, estimulando
e cobrando o aprendizado, envolvendo-se com escola, maior
a chance de que seus filhos tenham mais disposição
de encontrar seu talento e fazer disso uma riqueza coletiva.
Se todos os pais fossem mais exigentes, a escola pública
não seria como é, porque os eleitores cobrariam
mais dos governantes e usariam o voto para puni-los. É
por isso que deixamos de produzir tantas Sandras.
Coluna originalmente publicada na Folha Online,
editoria Pensata.
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