Durante dois
anos, um ex-pichador chamado Djan ajudou a produzir a mais
completa investigação sobre o universo clandestino
da pichação, resultando num documentário
ainda inédito no Brasil. Nunca se conseguiram imagens
tão íntimas dessa tribo urbana, inclusive das
invasões da Bienal e da Faculdade Belas Artes --coloquei
trechos do documentário no Catraca Livre. Esse documentário
ajuda a entender pesquisa que acaba de ser divulgada pelo
Unicef sobre o assassinato de adolescentes no país.
O que se vê no documentário é como as
mais variadas formas de violência como a falta de escola,
de cultura, de lazer, de emprego, acabam gerando uma falta
de perspectiva --e, nessa falta de perspectiva, combinada
com a sensação de impunidade, está a
raiz.
As periferias são usinas de marginalidade justamente
porque não produzem perspectivas, o que impede os indivíduos
de desenvolverem uma identidade e de se expressarem. No documentário,
vemos que o motor do pichador é, de forma selvagem
e violenta, escapar do anonimato e da invisibilidade.
Isso acaba explicando por que somos cada vez mais violentos
--e nossas cidades (e almas) cada vez mais pichadas.
Produzido por João Wainer e Roberto Oliveira, o documentário
"Pixo" é uma das melhores reportagens investigativas
que já vi sobre a exclusão na cidade de São
Paulo. É daquelas obras que ficarão na história
por revelar a alma de uma cidade.
Coluna originalmente publicada na
Folha Online, editoria Online.
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