Durante 17 dias, Expedito Franzana
passou por uma das maiores dores a que se pode submeter um
pai: seus dois filhos, um de 13 e outro de dez anos, foram
mantidos num cativeiro depois de arrancados do ônibus
escolar. Ao contrário do que ocorre com a maioria das
famílias vítimas de seqüestro, ele, além
de não querer deixar a cidade, diz sentir-se de certa
forma culpado. "Percebi como eu vivia tranqüilamente
e sem me sentir responsável pelo que acontece numa
sociedade que estimula o crime."
Expedito Franzana encara os seqüestradores dos filhos
como vilões e, ao mesmo tempo, como vítimas.
Um deles tinha saído da prisão 60 dias antes,
depois de cumprir pena de 20 anos na cadeia. "Se esse
sujeito tivesse procurado emprego na minha empresa, eu teria
recusado."
A identificação de Expedito tem, em parte, explicação
em sua própria trajetória de vida. Filho de
agricultores, ele nasceu numa pequena cidade do interior de
Santa Catarina, de 25 mil habitantes, chamada Fraiburgo. Saiu
de lá contra a vontade dos pais. Chegou a São
Paulo sem dinheiro e, em certos períodos, ficou desempregado.
"Senti o que era a angústia da falta de perspectiva."
Numa tentativa desesperada, vendeu a única propriedade
que tinha -um automóvel- e comprou um pequena loja
de material de construção. "Descobri meu
talento." Desde então, enriqueceu. "Devo
tudo o que tenho à cidade."
Mas, naqueles 17 dias, terminados nesta semana, ele temeu
que essa mesma São Paulo tirasse o que ele tinha de
mais importante. Quando os seus filhos estavam no cativeiro,
Expedito sentia-se um personagem de um filme. "Ouvimos
tanto falar em seqüestros e achamos que nunca vai acontecer
com a gente. Até que, de repente, somos sacudidos pela
realidade, saímos da platéia e somos projetados
para dentro da tela."
Seu filho mais velho, A., inicial que lhe foi dada na reportagem
da jornalista Sílvia Corrêa, da Folha, tem a
quem puxar. No Dia dos Pais, quando ainda estava no cativeiro,
A. parecia mesmo personagem de um filme ao perguntar a um
dos seqüestrados se tinha filhos. Diante da resposta
positiva, A. deu-lhe os parabéns e um abraço.
O gesto tocou os seqüestradores, que levaram a carta
que o menino escreveu, naquele dia, a seus pais.
Coluna originalmente publicada na
Folha de S.Paulo,
na editoria Cotidiano.
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