Pelo menos para Nádia Bacchi
está valendo a máxima de que a vida começa
aos 40 anos. E, para ela, começou mesmo aos 50.
Ela formou-se em biologia e deu aulas por dez anos no interior
de São Paulo. Jogou a carreira de professora para o
alto e resolveu seguir uma velha paixão: a moda.
Abriu uma confecção, ganhou um bom dinheiro,
mas, espremida por crises econômicas, quebrou e abandonou
os negócios. Deixou tudo, a começar da placidez
interiorana, com pouco estresse e quase sem violência.
Foi se reencontrar apenas na favela Paraisópolis, grudada
no Morumbi, bairro em que decidiu morar. "Meus olhos
brilhavam quando eu sentia a agitação paulistana."
Depois que chegou do interior, Nádia corria o risco
de virar uma dona-de-casa. Foi salva pelas empregadas, que
a levaram para conhecer a favela Paraisópolis, onde
viviam. "É claro que, no começo, senti
medo." No ano passado, ela teve a idéia de juntar
seus dois prazeres naquele cenário: dar aula e desenhar
modelos. Daí surgiu uma experiência batizada
de Recicla Jeans, cujo objetivo era ensinar jovens a inventar
produtos a partir de roupas de jeans imprestáveis.
As peças dessa inspiração se encaixaram.
Primeiro, veio a ajuda oficial. Os jovens de Paraisópolis
ganharam uma bolsa mensal da prefeitura, destinada ao estímulo
profissional. Auxiliados por estilistas profissionais, puderam,
então, dedicar-se somente à experiência
de reciclagem de roupas. "Virei um misto de professora
com caçadora de talentos."
Depois veio a providencial ajuda familiar, graças a
um exuberante modelo que saiu não de suas mãos,
mas de sua barriga. Se a vida para Nádia começou
mesmo depois dos 50 - tem agora 53-, para sua filha, Karina,
explodiu agora aos 27 anos. Sua popularidade cresceu no papel
de Tina, na novela "Da Cor do Pecado", da Rede Globo.
Voluntariamente, ela se ofereceu para ser a principal modelo
dos produtos da Recicla Jeans.
Com a presença de autoridades, artistas e de ícones
da moda, a Recicla Jeans fará, hoje à noite,
um desfile exclusivo no hall da Assembléia Legislativa.
Pelo jeito, é apenas um começo: já recebeu
convite para desfilar em Milão, um dos templos mundiais
da moda. Mas Nádia é o melhor produto de si
própria, pois aprendeu a se reciclar.
Coluna originalmente publicada na Folha de S.Paulo,
na editoria Cotidiano .
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