Vanessa Sayuri Nakasato
A praça da favela Jardim Edith pode ganhar, nos próximos
meses, um quê de cidade interiorana. Moradores e empresários
da região querem construir um coreto no local com o
objetivo de transformá-lo em um espaço permanente
de recreação e entretenimento para a comunidade.
A novidade faz parte do Coreto Comunitário, um projeto
que tem o intuito de resgatar a velha tradição
brasileira de utilizar praças públicas para
festas, encontros e, até mesmo, aulas ao ar livre.
“Queremos que o coreto seja um lugar amistoso, onde
as pessoas possam aprender, se divertir e, de quebra, aproveitar
melhor o espaço público”, explica a psicóloga
Maria Augusta Pereira, idealizadora do projeto.
Embora a intenção seja reunir pessoas, Maria
Augusta ressalta que as atividades do Coreto Comunitário
variarão conforme o perfil bairro. Na Vila Olímpia,
por exemplo, bairro de classe média alta, o coreto
poderia servir de palco para apresentações musicais.
No caso da favela Jardim Edith, o coreto que será construído
em seu “quintal” terá como principal meta
ser um ambiente educativo.
A favela será o projeto piloto do Coreto Comunitário.
Ela foi escolhida por estar localizada na avenida Jornalista
Roberto Marinho (antiga Águas Espraiadas), na zona
sul de São Paulo. Ou seja, um lugar cercado por bairros
de classe média alta e ricas empresas, como a Rede
Globo, hotel Hilton e Nestlé.
“O brasileiro tem o hábito de jogar embaixo
do capacho tudo aquilo que o incomoda e que não quer
ver. Ano após ano, a favela Jardim Edith passa pelo
mesmo dilema do ‘sai ou não sai’. Todo
prefeito que entra é pressionado pela elite para exterminá-la.”
Na opinião da psicóloga, a possível
solução para essa novela é tentar melhorar
o lugar e a postura de seus moradores, e não se livrar
de ninguém. “Não adianta fugir de uma
realidade que existe e é nossa. Temos que trabalhar
com ela.”
Idéias para transformar o coreto em um centro de oficinas
culturais e artesanais é o que não faltam. Apesar
de não ter sido iniciado ainda, o projeto já
tem nove programas catalogados: Inglês na Praça,
Espaço da Arte, Esportes Lúdicos, Teatro na
Praça, Alimento 10!, Encontro de Jovens, Leitura na
Praça, Terceira Idade e Inventando Moda.
“São cursos que não só ensinarão
pessoas de todas as idades a ter uma boa educação
alimentar, criar roupas, a falar outro idioma. Possibilitarão
auto-sustentabilidade e ajudarão aos jovens, em especial,
a descobrirem seus potenciais.”
Para ministrar as aulas, o Coreto Comunitário pretende
envolver moradores da comunidade, voluntários e universitários.
“Acredito que a participação dos estudantes
seja de extrema importância. Além de se aperfeiçoarem
e ensinarem o que sabem, terão vivência social
e comunitária. Dessa forma, sairão de dentro
de quatro paredes para ver o Brasil como ele é e, quem
sabe, se tornem cidadãos mais justos, mais humanos.”
Para o ex-pedreiro Gerôncio Henrique Neto, um dos líderes
comunitários da favela, o coreto será um meio
de tirar as crianças da rua, de incentivar o jovem
a não desistir de procurar um emprego e de estudar.
“A comunidade está bastante animada com o projeto.
E se a praça ficar do jeito que está no papel,
ela será a mais bonita do Brooklin.”
Conforme Maria Augusta, as obras do coreto só não
foram iniciadas por insegurança dos empresários
em investir em um local que pode ser evacuado a qualquer momento.
“Conversei com diversas empresas, informalmente. Todas
elas gostaram e disseram que apoiariam o projeto. O problema
é o ponto de interrogação.”
Promessa
O vereador Nabil Bonduki assegura que os moradores da favela
não serão deslocados. Segundo ele, a permanência
dessas pessoas foi aprovada no último dia 2, no Plano
Diretor Regional. “Talvez parte da população
tenha de sair quando começarem as obras de habitação,
mas será atendida na região”, disse. Hoje,
cerca de 600 famílias moram na favela Jardim Edith.
Aproximadamente 250 delas estão lá, no mínimo,
há 10 anos.
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