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Camiseta, calça e tênis.
Era o que vestia a desempregada Rita de Cássia da Cruz
Fávaro, de 28 anos, na noite de domingo para segunda-feira
desta semana, a madrugada mais fria do ano em Curitiba. “Tirei
tudo que podia, até a meia, para tentar aquecer as
crianças”, conta. Na noite em que a temperatura
chegou a - 0,1ºC, Rita e os cinco filhos (com idades
entre 1 e 9 anos) dormiram embaixo do Viaduto do Colorado
(próximo à Rodoferroviária). “Acomodei
as crianças bem próximas umas das outras e coloquei
minha jaqueta sobre os pés delas para que ficassem
cobertos. Nunca vou esquecer daquela sensação,
meus ossos ainda não pararam de doer. Parece um milagre
estarmos vivos”, descreve.
Quando o dia amanheceu e Rita procurou
um posto de saúde, foi encaminhada ao Albergue Municipal,
da Fundação de Ação Social (FAS).
“Chegamos aqui e já ganhamos café da manhã.
Se soubesse que um lugar assim existia não teria deixado
meus filhos na rua”, diz. Não é a primeira,
nem deve ser a última pessoa em situação
semelhante que procura o albergue. O local fica aberto o dia
todo e recebe qualquer tipo de pessoa necessitada. “São
famílias de migrantes, mulheres e crianças vítimas
de violência, moradores de rua. Não fazemos distinção”,
diz a gerente-geral da Central de Resgate Social, Marly Batista
de Oliveira.
Quem procura o albergue (único
da cidade que oferece este tipo de serviço) pode ficar
até três dias e recebe roupas limpas, banho,
quatro refeições e lugar para dormir. A capacidade
máxima de atendimento é de cem pessoas, mas
o maior movimento acontece no outono e inverno. No último
domingo, 90 pessoas dormiram no local. “Há mais
de um ano estamos voltando nosso trabalho para tentar dar
um apoio maior a estas pessoas, não só um abrigo
emergencial”, diz a gerente. É o que deve acontecer
com Rita. Segundo ela, a noite na rua se deve a uma discussão
com a dona da casa onde mora, que acabou em despejo. Saíram
só com a roupa do corpo. “Já descobrimos
que eles têm parentes em Araucária e estamos
tentando contato. Vamos procurar vagas em creches e acompanhamento
do Conselho Tutelar”, informa Marly.
Nem todos aceitam qualquer apoio além
da estadia. São os chamados “crônicos”,
pessoas que volta e meia aparecem ou são levadas pelas
equipes do resgate social, que fazem o atendimento na rua.
Abraão Teodoro, de 40 anos, já é conhecido.
“Quando ele não vêm, alguém chama
o resgate porque o encontra esticado, desmaiado na calçada”,
conta Marly. Alcoólatra, o morador de rua diz que não
pode parar de beber. “Quando a mão treme, preciso
de uma cachaça. Mas hoje a vontade de dormir na cama
foi maior”, conta, explicando que arranjar dinheiro
para comprar uma garrafa da bebida a R$ 1,50 é fácil:
“é só pedir na rua”.
Desestimular a prática da esmola
é outro objetivo do resgate, que a considera uma das
principais motivações para estas pessoas não
mudarem de vida. “Nós vimos aqui situações
muito tristes de pessoas que já desistiram de si mesmas.
Somos como uma referência de alguém que acredita
neles e por isso não podemos desanimar. É nesta
época de frio, em que eles se vêm em casos extremos,
que alguns acham motivação para tentar mudar
sua realidade”, conta a psicóloga do resgate,
Marlene Block.
As informações
são da Gazeta do Povo, de Curitiba -PR.
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