Eliminar terrenos baldios em áreas
urbanas – que muitas vezes são utilizados como
depósitos de entulho e se transformam em focos de doenças
como a dengue –, produzir hortaliças para o consumo
de escolas e famílias de baixa renda, melhorar a qualidade
da alimentação destas pessoas com redução
de gastos e ocupar cidadãos desempregados que moram
nos centros urbanos. Estas são as vantagens da implantação
de hortas comunitárias na cidade.
Uma horta cuidada por uma única família é
chamada horta doméstica. A diferença da horta
comunitária é que esta é mantida por
um grupo de pessoas da mesma comunidade. Este modelo de cultivo
de verduras e legumes, também conhecido como horta
coletiva, tem ajudado no combate à fome e na ocupação
das pessoas, por meio do exercício da cidadania.
Em geral, as hortas comunitárias são instaladas
em lotes vagos e sua produção abastece famílias
que moram perto destes terrenos. São cultivados alface,
tomate, rúcula, couve, espinafre, repolho, alho, rabanete,
beterraba e cenoura, entre outras verduras e legumes. Na maioria
dos casos, a produção é feita a partir
dos princípios de agricultura orgânica, ou seja,
sem os inseticidas e fungicidas tradicionais, o que garante
mais qualidade ao que é produzido.
Conhecimentos populares sobre ervas medicinais também
fazem a diferença na hora de a comunidade escolher
o que vai plantar. Em algumas hortas são incluídos
itens como a sálvia, por exemplo, que é uma
planta usada para baixar a febre, ou o boldo, utilizado no
combate a problemas no fígado.
Com o tempo, as hortas recebem a participação
de toda a comunidade. Mesmo daqueles que não se beneficiam
diretamente da produção. Muitas vezes, os vizinhos
doam sementes para novos plantios e água para os produtores
regarem o terreno cultivado.
Apoio
Entre suas ações de apoio às comunidades
carentes e inserção social, a Fundação
Banco do Brasil – FBB tem o Projeto Hortas, com diretrizes
alinhadas ao programa Fome Zero, do governo federal. Cada
horta comunitária apoiada pela FBB atende, diretamente,
a cerca de 150 famílias de baixa renda que vivem em
situação de exclusão social e são
selecionadas por instituições parceiras. Os
beneficiários recebem informações sobre
o cultivo, além de ferramentas, sementes e insumos.
Em um convênio com a Companhia de Armazéns e
Silos do Estado de Minas Gerais – Casemg, por exemplo,
foram implantadas hortas comunitárias em Uberaba (MG),
em fevereiro deste ano. São duas estufas e um espaço
para a difusão de técnicas de hidroponia (agricultura
baseada na produção em meio aquoso).
Batizada como Projeto Estufas, a iniciativa beneficia 110
famílias e tem também como parceiros a Prefeitura
de Uberaba, a Empresa de Assistência Técnica
e Extensão Rural – Emater e a Fundação
Educacional para o Desenvolvimento das Ciências Agrárias
– Fundagri, que garantem preparação do
solo, assistência técnica e mão-de-obra
para manutenção do programa.
No final de 2003, cinco hortas foram plantadas em lotes da
cidade de Ribeirão das Neves, na região metropolitana
de Belo Horizonte (MG). O investimento foi de R$ 12,5 mil
e, menos de um ano depois, os impactos já podem ser
notados: além de alimentos para as famílias
carentes da região, a ação integra os
moradores e diminui a violência.
"A partir do momento em que se dedicaram às hortas,
as pessoas passaram a ter menos tempo livre, que propiciava
ações violentas, passaram a ser mais preocupadas
com a comunidade, porque a horta é uma ação
coletivizada", afirma Éder Melo, coordenador do
núcleo Fome Zero da Gerência de Logística
do Banco do Brasil de Minas Gerais.
Em Goiânia (GO), o projeto Horta Escolar Comunitária,
também desenvolvido pela FBB, em parceria com a Secretaria
Municipal de Educação, vai aproveitar espaços
ociosos nas próprias escolas municipais para formar
hortas, complementar a merenda escolar e beneficiar famílias
de baixa renda.
O Horta Escolar ainda visa a contribuir com a educação
ambiental e com a interação dos alunos, que
se tornarão disseminadores de práticas sustentáveis
e de baixo custo. Ao longo de cinco anos, serão investidos
R$ 176 mil para implementar 24 hortas escolares na cidade
e beneficiar cerca de 750 famílias de baixa renda e
9,8 mil estudantes da rede municipal.
Até o final deste ano, a Fundação Banco
do Brasil terá implantado mais de 30 novos projetos
de hortas comunitárias Serão investidos R$ 620
mil, provenientes de um convênio firmado com Ministério
de Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
Ciclo virtuoso
O custo médio por horta, durante um ano, é
de R$ 550 reais. Para as administrações municipais,
muitas vezes é mais vantajoso investir nas hortas do
que manter os terrenos limpos e oferecer empregos para todos
os que trabalham na produção de verduras e legumes,
vendidos, em geral, para a própria prefeitura, que
os utiliza na merenda escolar.
Pela experiência de Éder Melo, a renda média
gerada por família que participa das hortas comunitárias
é de R$ 400 a R$ 500. Ele conta que há vários
modelos de ação que podem ser implementados.
"Há a horta para o autoconsumo, em que a comunidade
planta em mutirão e só se comercializa o excedente.
Neste modelo, uma ou duas pessoas são fixas, recebendo
salários. Há outras em que o foco é a
geração de renda e as famílias recebem
pelo que cada uma produz. Algumas são fundamentalmente
para a geração de emprego e são criadas
normalmente por instituições de apoio à
inclusão social ou administração pública",
explica.
De qualquer forma, assegura Melo, o resultado é a
percepção, pelos cidadãos envolvidos,
da importância do associativismo. "As pessoas percebem
que, organizadas, podem mudar sua situação de
exclusão. Além de embelezarem o local onde moram
e passarem a ter alimentação de melhor qualidade",
analisa.
Em grande parte das hortas comunitárias que destinam
sua produção para escolas, durante as férias
escolares a comercialização é garantida,
com os produtos sendo entregues em hospitais e creches da
cidade. Isso mantém os que trabalham nas hortas ocupados
todos os meses do ano e leva alimentos de boa qualidade também
para outros públicos, além dos estudantes.
No caso de hortas que não vendem seus produtos para
os órgãos públicos, existe também
a opção de comercialização direta
para o consumidor. É importante que parte de cada safra
seja destinada à venda para que a comunidade possa
adquirir novas sementes e insumos, assim garantindo a sustentabilidade
dos projetos.
SANDRA FLOSI
da Fundação Banco do Brasil
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