Hoje, no Brasil, há mais
de 70 milhões de pessoas que não concluíram
o Ensino Fundamental. Destes, 16 milhões são
jovens, de 15 a 24 anos. Olhar para esta população
parece ser o ponto de partida para um país que busca
acabar com o analfabetismo e melhorar a qualidade da educação.
Atento a esse quadro, o Programa Crer para Ver, desenvolvido
pela empresa de cosméticos Natura e a Fundação
Abrinq, dá um novo rumo às suas ações.
Lançado há nove anos, o Crer para Ver promoveu
até agora diversas atividades, como apoio a 146 projetos,
com o objetivo de melhorar a qualidade da educação
pública brasileira, atingindo cerca de 900 mil crianças
e adolescentes em 3.648 escolas públicas de 21 Estados.
Agora, o programa dedica sua atuação também
para a educação de jovens e adultos (EJA). Para
isso, no mês de agosto, as organizações
em parceria com o Ministério da Educação,
lançaram uma campanha nacional de apoio ao EJA. As
ações devem se tornar mais fortes a partir do
final de outubro, quando terá início o período
de matrícula para os cursos. "Os números
são assustadores. São milhões de brasileiros
que não poderão concorrer a uma vaga de emprego
porque não têm o Ensino Fundamental. Este é
um problema sério e um processo de exclusão
social com proporções enormes. A EJA tem tido
pouco apoio e suporte até agora, tanto no que diz respeito
às políticas públicas, como nas campanhas
realizadas pelas entidades que lutam pela educação
no país", comenta Nelmara Arbex, gerente de Responsabilidade
Corporativa da Natura.
Celso Santiago, coordenador do programa na Abrinq, destaca
que, apesar da educação de jovens e adultos
estar prevista na Lei de Diretrizes e Bases (LDB), ela é
pouco organizada e desenvolvida. Prova disso é que,
uma pesquisa realizada em 2000, mostrou que das 1320 universidades
e faculdades de Educação no país, apenas
23 ofereciam habilitação e especialização
para esta modalidade. "E essa formação
dos profissionais é essencial tendo em vista que as
expectativas e os interesses do jovem são diferentes
de uma criança. O perfil do aluno é outro e
a didática também. Mas ainda é muito
incipiente essa atuação. Alguns trabalhos contam
com materiais, mas a maioria ainda utiliza livros da educação
de crianças", comenta.
Para ampliar a atuação da campanha, que deverá
ser desenvolvida até o final de 2005, as mais de 367
mil consultoras da Natura estão sendo envolvidas neste
processo. As 60 promotoras de vendas da empresa participaram
de um treinamento na Natura para entender todo o contexto
social desta problemática no país e, agora,
estão repassando as informações, juntamente
com um material de divulgação, para as suas
consultoras. Elas se tornam, portanto, agentes de educação,
pois, além de identificarem potenciais alunos, também
irão orientá-los a se matricular nas escolas
que contam com programas de EJA.
"E isso não é tarefa fácil, pois
é uma ação de convencimento. Muitas destas
pessoas não terminaram seus estudos ou nunca estudaram
porque tiveram problemas com as escolas, passaram por situações
difíceis. Mas é um aprendizado muito importante.
Afinal, a escola não é simplesmente um local
para aprender a ler e escrever. Ela oferece também
oportunidade de convivência, de descobrimento da identidade
e de se reconhecer na comunidade", comenta Santiago.
Para facilitar o acesso dos alunos a estes programas, as
organizações prepararam um banco de dados atualizado
com as 8.606 escolas do país que oferecem atividades
com esse enfoque, além de uma Central de Atendimento
que irá orientar e esclarecer dúvidas a respeito
do assunto.
O coordenador do programa destaca que sempre as consultoras
desempenharam um papel de destaque no Crer para Ver, pois,
em diversos locais onde o programa é desenvolvido,
elas criam vínculos com as escolas e as ações,
se envolvendo no processo de mobilização da
sociedade para a melhoria da educação, como
a participação nos encontros e discussões
que são promovidos nos projetos do programa. "Por
isso a idéia da criação de uma rede social
em prol da educação de jovens e adultos",
destaca Santiago.
Na opinião de Nelmara, essa grande mobilização
procura ainda trazer o tema novamente à pauta de discussões
da sociedade brasileira, já que parecia estar sendo
esquecido. "A educação é um dos
pilares fundamentais para o desenvolvimento do país.
E todos têm um papel importante neste processo, pois
este não é um problema do outro, mas sim nosso.
Afinal, o futuro de todos depende disso", complementa
a gerente.
As consultoras serão responsáveis ainda por
preencher e encaminhar para a Natura um documento a respeito
da efetivação das matrículas que acompanhar,
assinado pela diretoria da escola. Com isso, o programa poderá
monitorar as ações, obtendo informações
sobre o número de alunos matriculados por meio do Crer
para Ver, além das escolas participantes e a distribuição
regional. Uma fase piloto do projeto foi realizada em julho
nas cidades de Cajamar, Ribeirão Preto e também
em Goiás.
Andréia Andorra, promotora há 6 anos da Natura
em São Paulo e coordenadora de 550 consultoras, conta
que foi uma grande surpresa e novidade essa nova atuação
do Crer para Ver, e que todas estão muito dispostas
a colaborar. A promotora já mobilizou sua equipe e,
no próximo encontro, no final do mês, irá
entregar outros materiais da campanha, como as fichas de matrícula.
"Acho que terá uma adesão muito grande
das consultoras porque lidamos com muitas pessoas nas comunidades
que pararam de estudar. Além disso, muitas delas são
profissionais que atuam com Educação, mas não
sabiam da existência da EJA. Acredito que até
elas mesmas, que não completaram seus estudos, irão
querer voltar para a escola", destaca.
Com o objetivo de fazer um mapeamento do que já está
sendo desenvolvido no país com qualidade a respeito
da Educação de Jovens e Adultos, e buscando
reconhecer as boas iniciativas, a Natura Cosméticos
lançou o Prêmio Crer para Ver – Inovando
o EJA, em parceria com o Ministério da Educação.
Poderão participar do concurso projetos de professores
da Educação de Jovens e Adultos, do Ensino Fundamental,
desenvolvidos em escolas municipais ou estaduais, urbanas
ou rurais; e projetos de Escolas para a Educação
de Jovens e Adultos do Ensino Fundamental da rede municipal
ou estadual. Serão premiados cinco projetos na categoria
Professor, sendo que o prêmio será um pacote
de turismo cultural/histórico com direito à
acompanhante; e outros cinco na categoria Escola, sendo um
de cada região do país. O prêmio para
esta categoria será o repasse de recursos no valor
de até R$ 10.000,00 para investimento no aprimoramento
ou ampliação do projeto premiado.
As propostas encaminhadas deverão estar em andamento
a pelo menos um ano. Durante o processo de avaliação,
serão analisados aspectos como instalação
e equipamentos, convívio, gestão e projeto pedagógico,
no caso da categoria Escola. Os projetos deverão ainda
mostrar consistência entre objetivos propostos e estratégias
no que diz respeito à avaliação, disseminação,
resultados e inovação.
Celso Santiago destaca que o prêmio pretende ainda
incentivar outras escolas a desenvolverem um olhar diferenciado
para a EJA e se utilizem destas experiências bem sucedidas.
Com esse levantamento, a idéia é colocar à
disposição dos gestores públicos as metodologias
utilizadas a fim de gerar ações efetivas nesta
área. As inscrições poderão ser
feitas até o dia 25 de fevereiro de 2005 (www.fundabrinq.org.br/crerparaver)
e a premiação será anunciada no segundo
semestre daquele ano.
Apoio a projetos
Outra área de atuação do Programa
Crer para Ver - EJA será no apoio a projetos de formação
de professores de EJA orçados em até R$ 120
mil. As inscrições já estão abertas
e vão até o dia 20 de outubro. Poderão
participar do processo de seleção os projetos
de organizações não-governamentais, dentre
elas as associações de pais e mestres, os conselhos
escolares e outras instâncias de colegiados, que proponham
ações dirigidas a professores de cursos da EJA
de escolas públicas, com carga horária mínima
de 80 horas de atividade presencial com os professores.
As propostas devem estar articuladas com as secretarias
de educação e envolver um conjunto de escolas,
toda a rede municipal e/ou estadual ou um conjunto de municípios
de uma determinada região. É importante ainda
que os projetos tenham capacidade para dar continuidade às
ações depois de terminado o financiamento, e
apresentem contrapartida do custo total das atividades.
Terão destaque os projetos de formação
continuada que estimulem os professores a refletir sobre suas
práticas educativas e lhes proporcionem o acesso a
novas concepções pedagógicas. É
importante que essas práticas tragam significado ao
universo dos jovens, proporcionando o acesso ao conhecimento
existente na comunidade e ao conhecimento universal, além
de possibilitar ao aluno o exercício do fazer, do experimentar
e do trabalho em equipe. Os interessados em participar deverão
preencher todos os formulários disponíveis no
site do programa
Educação de qualidade
As ações do Crer Para Ver, que visam
melhorar a qualidade do ensino público, também
continuam. Atualmente, o programa apóia projetos na
Chapada Diamantina, para a formação de professores
de alfabetização; em São Paulo, com cinema
e vídeo em sala de aula; na rede de educação
infantil e ensino fundamental – somente até a
4ª série, do Rio de Janeiro, a fim de diminuir
as diferenças existentes na metodologia da passagem
da educação infantil para a 1ª série;
e também no Acre, com o projeto Escolas Indígenas
da Floresta, desenvolvido desde 2003, e realizado pela Comissão
Pró-Índio do Estado, para a formação
de professores indígenas bilíngües.
Nelmara Arbex ressalta que todos estes projetos têm
o perfil de multiplicadores e são desenvolvidos em
diversas etapas, diferentemente do que ocorria no início
do Crer para Ver, em que o programa somente apoiava pequenos
projetos, por um período de apenas um ano.
Programa Crer Para Ver
Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança
Endereço: rua Lisboa, nº 224, São Paulo
Site: www.fundabrinq.org.br/crerparaver
E-mail: pcpv@fundabrinq.org.br
Central de Atendimento Crer para Ver: 0800-7030444
DANIELE PRÓSPERO
do site Setor3
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