CEARÁ- Uma experiência de cultivo de ostras está sendo
desenvolvida na comunidade Quilômetro Quatro, em Camocim,
como parte do projeto de Tecnologia da Ostreicultura em Comunidades
Litorâneas no Estado Ceará. A previsão
da primeira coleta é para fevereiro de 2005. Trata-se
de uma unidade demonstrativa com 12 módulos familiares,
sendo cada módulo composto por uma mesa com 12 travesseiros
de cultivo, com o sistema de castigo, um sistema fixo submerso
na maré cheia e fora dágua na maré baixa,
quando as famílias envolvidas aproveitam para o manejo
das ostras.
O projeto é executado pela Universidade Federal do
Ceará (UFC), através do Núcleo de Estudos
em Economia do Meio Ambiente (NEEMA) e Grupo de Estudos de
Moluscos Bivalves do Instituto de Ciências do Mar (Labomar).
O financiamento é do Fundo de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico do Banco do Nordeste.
A equipe da UFC, formada pelo professor Rogério César
Pereira de Araújo, engenheiros de pesca Maximiano Pinheiro
Dantas e quando a maré está alta, os “berçários”
em estrutura tipo mesa ficam submersos.
Sandra Carla Oliveira do Nascimento, e a estudante Cássia
Rosane, esteve no último domingo em Camocim para uma
reunião de avaliação e visita no projeto
de cultivo de ostras. Os resultados foram considerados satisfatórios,
com estimativa de 48 mil ostras, no período de oito
meses, o que corresponde a uma receita de R$ 1.200,00 por
mesa. “Este projeto tem o objetivo de gerar ocupação
e renda extra aos membros da comunidade.
O cultivo de ostra utiliza a estrutura tipo mesa (suspensa),
apropriada para as condições ambientais da gamboa,
braço do Rio Coreaú, com uma profundidade de
aproximadamente cinco metros. A estrutura consta de estacas
de madeiras fixadas no solo, sendo suas extremidades livres
ligadas por varas de bambu, que servem de apoio para os travesseiros”,
explica o responsável técnico, engenheiro de
Pesca Maximiano Pinheiro Dantas.
Ele enfatiza que a produção é obtida
em duas fases: pré-engorda e engorda. Na primeira etapa,
as sementes, ostras juvenis, são acomodadas em travesseiros
com malha de quatro milímetros de abertura, por um
período de 120 dias. Depois, as ostras são remanejadas
para travesseiros de nove e de 14 milímetros até
atingirem o tamanho comercial, que varia de seis a oito centímetros.
Uma vez por semana, aproveitando a maré baixa, ocorre
a limpeza das ostras com a retirada de predadores, parasitas
e incrustantes como caranguejos, caramujos, poliquetas, cracas
e algas.
“É a primeira vez que acontece este tipo de atividade
com orientação. Está sendo ótimo
o acompanhamento dos técnicos da Universidade. Estou
com três mesas, a minha e as mesas de outros colegas
que desistiram”. Com estas palavras, o pescador Raimundo
Nonato Alves, 53 anos, expressa sua confiança no projeto
que, na sua avaliação, tem todas as condições
para melhorar a vida das famílias envolvidas com a
geração de renda.
Outro pescador, Odilon Amaral Rocha, 70 anos, enfatiza que
“a limpeza é um serviço fácil que
pode ser feito por qualquer pessoa e não atrapalha
o serviço de ninguém... é feita de oito
em oito dias, durante duas horas, podendo ser no sábado
e no domingo, quando a maré ficar baixa”. Também
pescador, Francisco das Chagas Oliveira da Silva, 28 anos,
revela que “só tinha ouvido falar de ostra na
televisão. Agora já aprendi muita coisa. Estou
gostando de trabalhar com ostras. Só é preciso
tirar o lodo e a lama, a gente passa o escovão e balança
dentro dágua”.
A presidente da Associação Comunitária
dos Quilômetros, Maria das Graças Silva Rocha,
comenta que desistiram algumas das 12 famílias selecionadas
para o projeto “Algumas pessoas não acreditam,
ficam com resistência em adotar este sistema. A Rede
Globo está mostrando uma novela que fala sobre ostras.
Aqui, a gente recebeu a estrutura e o conhecimento. O que
se espera é uma grande produção.
Em Camocim, o preço é de R$ 3,60 a dúzia;
em Jericoacoara é R$ 10,00”, disse Maria das
Graças.
O professor Rogério César Pereira de Araújo,
coordenador do projeto, faz questão de ressaltar que
o cultivo agrega valor ao produto, sendo diferenciado da ostra
de mangue. Ele disse que a equipe da UFC fará contato
com restaurantes de Fortaleza para evitar o atravessador,
o que garantirá melhores preços para beneficiar
o produtor e não o intermediário.
Rogério comenta que no Ceará a atividade de
coleta ou cultivo de ostras ainda contribui pouco para a geração
de emprego e renda. As razões para isto devem-se a
um mercado ainda incipiente que pode ser explicado pela falta
de hábito alimentar. Em particular, o desenvolvimento
do cultivo de ostras se mostra como uma prática viável
para reduzir a pressão sobre os estuários da
coleta desordenada das mesmas, contribuindo assim para a preservação
deste ecossistema e, também, gerando uma renda complementar
para as comunidades que possuem áreas propícias
para tal fim. Um mercado potencial para o escoamento da produção
de ostras é o setor turístico em crescimento
no Ceará.
F. EDILSON SILVA
do jornal Diáro do Nordeste
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