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SÃO PAULO (SP) - Com os
olhos úmidos e a voz embargada, Ercília da Silva
Fernandes de Oliveira, de 46 anos, se sente muito orgulhosa
ao falar da Escola Estadual Estela Borges Morato, em São
Miguel Paulista. Ex-aluna, hoje atua no local como voluntária,
participando entre outras atividades do projeto Tarsila do
Amaral. "Nunca ouvi falar da artista nem sequer das obras
dela", diz, ao mostrar a proposta de pintura apresentada
aos estudantes. "Mas o melhor de tudo é ver as
crianças aprendendo sobre a arte."
Quem chega ao colégio, logo nota os muros com desenhos
infantis. Mas o melhor está nas dependências.
No pátio, onde as crianças passam o intervalo,
as paredes escuras e feias deram espaço para reproduções
de quadros de Tarsila do Amaral e de Pablo Picasso. Tudo começou
há seis anos, com a professora Rosana Padilha. "Adoro
arte e uma aluna me incentivou a fazer pesquisas e mais pesquisas.
Com o apoio da diretoria e da comunidade, começamos
a transformar a área."
E agora outro espaço recebeu "a segunda fase da
iniciativa". Na semana passada, foi inaugurado um pátio
cultural, só com obras de Tarsila do Amaral. Foram
meses de dedicação para a professora, com apoio
de alunos, pais e funcionários. Nas paredes, podem
ser vistas reproduções de Abaporu, A Lua, Auto-Retrato,
Detalhe de Família, Central do Brasil, A Negra e Urutu.
"O meu objetivo é mostrar a importância
da arte brasileira. Por meio das reproduções
nas paredes, todos conhecem um pouco de arte. Além
de embelezar a escola, as crianças têm a oportunidade
de descobrir e valorizar o artista brasileiro. O meu prêmio
é vê-las entusiasmadas e somando vários
conhecimentos."
Na opinião de Rosana, todas as escolas deveriam ter
um pátio cultural e a preocupação de
vivenciar um pouco da arte. "Despertar o interesse nos
alunos é fundamental. Eles acabam contagiando os pais
e a comunidade."
Exemplo
Um exemplo disso é o que ocorreu com Gustavo Lopes
da Silva, de 10 anos. "Eu não sabia quem tinha
sido a Tarsila. Hoje sei tudo sobre a vida e a obra dela.
Comecei a comentar em casa e o meu pai, que também
não a conhecia, se interessou tanto que comprou um
livro sobre ela. A professora me estimulou e, nos fins de
semana, também ajudei a restaurar as reproduções
na paredes."
A iniciativa tornou-se motivo de orgulho entre todos os professores
e estudantes. Indagados sobre qualquer tema, tanto da vida
pessoal quanto da vida profissional de Tarsila, eles têm
as respostas na ponta da língua. É uma verdadeira
aula de arte. Sabem datas, obras, prêmios, tudo sobre
a modernista. Rosana até levou um grupo de alunos para
conhecer o túmulo onde a artista está enterrada,
no Cemitério da Consolação. "Levamos
trabalhos, atividades, redações e colocamos
em cima do túmulo. Foi uma maneira de homenageá-la."
Ela conta ainda que a emoção tomou conta da
garotada. "Foi emocionante para os alunos conhecerem
o local onde está enterrada uma pessoa que eles aprenderam
a admirar", diz a professora. "A oportunidade de
conhecer a arte da Tarsila me incentivou a pesquisar mais.
É importante termos conhecimentos culturais",
diz Caique Dias Caluete, de 10 anos. "Foi um enorme prazer
homenageá-la por tudo o que ela deixou para nós",
completa Felipe dos Santos Monteiro, também de 10 anos.
Kenya Tayná Libanio Martins, de 11, faz coro. "A
professora incentiva, motiva todos os alunos a adquirirem
conhecimentos. Tenho prazer de estudar aqui e me sinto orgulhosa.
Agora, todos os alunos têm de se dedicar e preservar
o colégio limpo e bonito."
Alegria
A coordenadora pedagógica Vilma de Souza Barros está
na escola há três anos. Ela observa que um ambiente
mais alegre proporciona maior aprendizagem. "A arte abre
os caminhos para a criatividade. Estudantes felizes ficam
mais aptos e interessados para aprender."
Para a diretora, Rosana da Silva, o sucesso da ação
se deve ainda à parceria de escola, funcionários
e comunidade. "O projeto é do colégio,
mas sem a dedicação e o amor dos professores,
dos alunos e da comunidade, seria inviável. Estou orgulhosa
de ser a diretora aqui."
Ela ressalta que o trabalho não é fácil,
uma vez que dos 1.800 alunos apenas 10% têm pais que
participam. "Conseguimos o respeito e a colaboração
de alguns. Já imaginou se este número aumenta?"
Ela considera a proposta da professora Rosana Padilha algo
valioso, a ser preservado. "As crianças contagiam
a escola com os conhecimentos adquiridos. Até os maiores,
que estudam à noite no ensino médio, ficaram
interessados pelas pinturas. Eles respeitam e preservam o
pátio limpo e até questionam a razão
de não terem aulas de Arte. A professora abraçou
o projeto e acreditou. Se em cada escola tivéssemos
uma Rosana, tudo seria diferente."
Questionada sobre qual a "fórmula mágica"
do sucesso, a diretora responde rápido. "É
resultado de muito trabalho, amor e dedicação
de todos."
CRISTINA RIBEIRO
do O Estado de São Paulo
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