A inauguração da Usina
de Adubo Orgânico de Costa do Sauípe, hoje, fechou
o ciclo virtuoso que vem se desenvolvendo no litoral norte
da Bahia. Agricultores plantam hortaliças e vendem
para o empreendimento turístico, os restaurantes e
o complexo turístico produzem lixo, e o lixo não
prejudica o meio ambiente porque, na usina, transforma-se
em adubo para os agricultores, que plantam hortaliças...
O complexo Costa do Sauípe fica no município
de Mata de São João, a 110 quilômetros
da capital da Bahia, Salvador. É o maior empreendimento
turístico da América Latina, com cinco hotéis
e seis pousadas, empregando 2,4 mil pessoas e recebendo aproximadamente
150 mil turistas por ano. O que a maioria destes turistas
não sabe é que, ao se hospedar ali, passa a
fazer parte do ciclo de atividades que vem contribuindo para
o desenvolvimento de oito comunidades, onde vivem cerca de
dez mil pessoas.
Desde julho de 2003, quando foi lançado o Programa
Berimbau, a região está vendo aflorar as suas
potencialidades econômicas por meio de ações
que priorizam a criação de cadeias produtivas
geradoras de trabalho e renda. O programa foi idealizado pela
Fundação Banco do Brasil, a Sauípe S/A
e a Previ (Caixa de Previdência dos Funcionários
do Banco do Brasil), e a idéia é aproveitar
a infra-estrutura do complexo turístico para fortalecer
as atividades econômicas da região, promovendo
as vocações e viabilizando o desenvolvimento
das potencialidades locais.
A Usina de Adubo Orgânico é mais uma das tecnologias
sociais implantadas por meio do Programa Berimbau. As quase
oito toneladas de lixo orgânico produzidas diariamente
nos hotéis e pousadas da Costa do Sauípe estão
sendo processadas e transformadas em cerca de 200 toneladas
de adubo orgânico por mês.
“O projeto da usina é o principal do programa
Berimbau, porque vai gerar as maiores conseqüências.
O adubo vai ser distribuído para os produtores da região
a um preço competitivo e a produção agrícola
será destinada aos hotéis. O número de
beneficiados será muito expressivo”, explica
Francisco José de Oliveira, coordenador do Programa
Berimbau.
Cooperativa gerencia usina
Os trabalhadores serão os donos do novo empreendimento,
por meio da cooperativa Verdcoop, que está gerando
40 postos de trabalho diretos. Indiretamente, os pequenos
agricultores da região serão beneficiados ao
poderem, com a aquisição do adubo produzido
pela usina, aumentar e melhorar a qualidade de sua produção
de frutas, verduras e legumes.
Instalada em um terreno de dez mil metros quadrados, a usina
funciona em um galpão com 1.600 metros quadrados de
área construída. Para utilizar nas suas áreas
verdes, oCondomínio de Costa do Sauípe comprará
15% do fertilizante produzido e o restante será comercializado
junto aos pequenos produtores da região.
O fertilizante saído da Usina de Adubo Orgânico
deve chegar a estes produtores a um preço até
20% inferior ao praticado no mercado. O incremento na produção
local é um interesse também de Costa do Sauípe,
porque isso melhora a operação do empreendimento,
evitando transportes de longa distância e a ação
de intermediários, que agregam custo ao produto final.
“O envolvimento de Costa do Sauípe assegura que
haverá um comprador grande, o que anima os produtores
da região. O complexo hoteleiro compra R$ 2,5 milhões
por ano em hortaliças”, revela Oliveira.
“Essa usina é a esperança de uma vida
melhor para nós. Não se pode abraçar
a comunidade toda com esta ação, mas temos planos
de aumentar sua produção. Inicialmente, ela
funcionará com 23 cooperados. Em um ano, devem ser
50. São pessoas que já não precisam procurar
trabalho”, comemora Marivani Lisboa, presidente da Verdcoop.
Aos 40 anos de idade, Marivani já foi caixa e auxiliar
de administração. Há dois anos, desempregada,
começou a fazer cursos oferecidos pela associação
dos moradores da região, em um convênio assinado
com a Fundação Banco do Brasil. Freqüentou
aulas de cooperativismo e de gestão de cooperação.
Então, participou da elaboração do projeto
de viabilidade da Verdcoop, até esta ser constituída,
em março de 2003.
Assim como Marivani, outras pessoas estão sendo capacitadas
para poderem integrar a cooperativa. “Duas cooperadas
eram analfabetas e participaram do BB Educar. Agora, já
conseguem ler e escrever. Também temos um curso de
capacitação direcionado para o trabalho da usina
que está sendo financiado pela Fundação
Banco do Brasil e é ministrado pelo Sebrae”,
conta Marivani.
Tecnologia e universidade
Para processar os resíduos orgânicos de forma
rápida e eficiente, as instituições que
criaram o Programa Berimbau decidiram trabalhar na usina com
uma tecnologia desenvolvida pela Bioexton, empresa incubada
na Universidade de Uberaba (MG). A técnica consiste
na utilização de um biodigestor que acelera
a decomposição da matéria orgânica.
O processo tradicional requer aproximadamente 90 dias para
decompor o lixo orgânico. Com o biodigestor, o mesmo
resultado é obtido em quatro dias.
A Usina de Adubo Orgânico também tem as vantagens
de não produzir resíduos que prejudiquem o meio
ambiente e não utilizar áreas a céu aberto,
evitando atrair insetos e pequenos animais– o que colocaria
em risco a saúde da população. “O
projeto tem viabilidade econômica e agrega um valor
ecológico inestimável. Vamos processar o lixo
orgânico de Costa do Sauípe sem seqüela
para o meio ambiente, sem cheiro ou resíduo. E no futuro
a usina pode atender a outros empreendimentos turísticos”,
projeta Francisco de Oliveira.
O próximo passo é o incentivo para a implementação
da coleta seletiva de lixo nas comunidades da região
de Costa do Sauípe. Com isso, o lixo gerado por estas
comunidades também poderia ser processado na usina,
criando mais empregos. “Vamos fazer um trabalho de conscientização
para a comunidade, para coletarmos o lixo residencial. Todos
vão fazer a coleta seletiva”, planeja Marivani.
Aproximadamente 56% da população das comunidades
que residem no entorno da Costa do Sauípe não
têm rendimentos; 45% são analfabetos e 23% recebem
menos de um salário-mínimo por mês. Os
parceiros do programa Berimbau vêm executando mais de
40 ações para a melhoria da qualidade de vida
desta população. A Usina de Adubo Orgânica
é mais uma delas.
As outras ações englobam a prática de
atividades produtivas com base na agricultura familiar e orgânica,
na pesca e na mariscagem, além da criação
de pequenos animais, a produção de artesanato,
projetos de aproveitamento e reciclagem de sobras de processos
produtivos, preservação e disseminação
da cultura local e desenvolvimento de valores artísticos.
Elaborado de acordo com as diretrizes do programa Fome Zero,
o Berimbau tem o apoio do Ministério do Trabalho e
Emprego e, por contribuir para a transformação
social das comunidades, é apoiado pelo International
Trade Center (ITC), órgão subordinado à
Organização das Nações Unidas
(ONU), como um piloto de desenvolvimento social com base no
turismo.
SANDRA FLOSI
da Fundação Banco do Brasil
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