BRASÍLIA
- Dois anos depois de ter criticado os cadastros dos programas
sociais do governo Fernando Henrique Cardoso, por serem incompletos
e recheados de benefícios irregulares, o governo do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva admite que só
em dezembro de 2006, ou seja, quatro anos depois da crítica
e no último mês do atual governo, será
possível depurar todo o cadastro do programa Bolsa-Família
e manter as fraudes em índices baixos.
A conta é feita pela secretária da Renda de
Cidadania do Ministério do Desenvolvimento Social,
Rosani Cunha. No ano passado, diz ela, o ministério
bloqueou cerca de 300 mil pagamentos de benefícios
onde houve suspeita de fraude detectadas pela fiscalização.
Nesse lote, cerca de 130 mil eram de inscritos no Bolsa-Família.
"Precisamos estabilizar os cadastros e os bancos de dados
deste programa para sabermos qual o índice de irregularidades
que o governo pode aceitar como razoável", comentou.
A limpeza das listas de beneficiários não será
simples. A maior dificuldade, segundo a secretária,
é o cruzamento entre os vários cadastros oficiais.
Para isso, o governo pretende comparar informações
dos cadastros do Programa de Integração Social
(PIS), Pasep - que é o registro dos servidores públicos
federais, estaduais e municipais -, com os registros da Relação
Anual de Informações Sociais (Rais), que mostra
todos os trabalhadores contratados com carteira assinada,
mais o Número de Informações Sociais
(NIS) onde são registrados os beneficiários
de programas sociais. Com isto, o governo terá como
cruzar os nomes de quem é servidor público e
recebe mais de R$ 100 per capita mensais por família
e não teria direito ao beneficio, como ocorreu em Teresina,
no Piauí, onde funcionários públicos
incharam a lista dos beneficiários do Bolsa-Família.
Zero impossível
Rosani Cunha disse que o governo não espera
um índice zero nas irregularidades dos seus bancos
de dados sociais. Para conseguir tal excelência, teria
de fazer grandes investimentos na identificação
dos pobres, o que destinaria muitos recursos para as atividades-meio
e poderia comprometer o programa. Nos Estados Unidos, informa
a secretária, este índice de fraude chega a
3%.
A secretária admitiu que a inclusão de novas
famílias no programa pode causar o surgimento de irregularidades:
eles podem estar recebendo benefícios de outros programas.
No caso de Teresina, acrescentou ela, a depuração
do cadastro do Bolsa-Família será feita em convênio
com a prefeitura. Esta destinará a seus agentes comunitários
de saúde a tarefa de fazer uma revisão nos cadastros.
Além disso, um inquérito administrativo vai
identificar, em dois meses, quais os servidores municipais
com direito a receber o Bolsa-Família. Para isto cada
um dos membros da família terá de estar ganhando,
no máximo R$ 100 mensais.
LEONEL ROCHA
do O Estado de S. Paulo
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