DAVOS
(Suíça). O enorme tapete de sisal na entrada
do Fórum de Davos, por onde passaram poderosos de todo
o mundo, foi produzido por famílias pobres de Valente,
no interior da Bahia. A divulgação do trabalho
desses artesãos foi um prêmio para 700 famílias
da pequena cidade brasileira. Elas sobreviviam vendendo uma
tonelada de fibra de sisal por US$ 140, se organizaram numa
cooperativa e hoje exportam até para os Estados Unidos.
Não enriqueceram, mas saíram da pobreza absoluta:
a tonelada de fibra hoje é vendida a US$ 350.
Este é só um exemplo. O Fórum Econômico
Mundial abriu as portas do mundo premiando o trabalho de sete
brasileiros que lideram projetos sociais de sucesso. Os projetos
estão sendo copiados por vários países.
Mas esses líderes se queixam que não estão
sendo valorizados pelo governo brasileiro. A médica
carioca Vera Cordeiro, da organização Renascer,
que usa os hospitais para identificar famílias pobres
e ajudá-las a sair da miséria, fez um apelo
ao presidente Lula em Davos:
"Vocês precisam usar mais a gente, presidente",
pediu.
Quatorze hospitais em três estados no Brasil adotaram
o modelo do Renascer, que está sendo implantado até
no Egito. Mas a médica não entende porque o
projeto, que dá certo há 13 anos, não
é melhor aproveitado no Brasil. Mesma frustração
tem Ismael Ferreira, da associação Apaeb, que
reúne as famílias de Valente. Ele disse que
está desde 1997 pedindo ao BNDES e ao Banco do Nordeste
do Brasil (BNB) crédito para comprar máquinas
para colocar borracha antiderrapante nos tapetes — o
que permitira as famílias exportarem mais — e
não consegue. O BNDES sequer responde aos pedidos,
e o BNB aprovou R$ 2,7 milhões dos R$10 milhões
necessários, mas ainda não liberou o dinheiro.
Rodrigo Baggio, premiado internacionalmente com seu projeto
de inclusão digital que criou quase mil escolas de
informática em comunidades pobres de 20 estados brasileiros
(o projeto foi levado a 11 países), disse que o governo
está discutindo nove projetos parecidos que estão
competindo entre si.
"É um desperdício de recursos",
queixou-se.
O gaúcho Fábio Rosa dirige a Ideaas, organização
que está levando energia alternativa a lugares rurais
esquecidos.
O projeto “Parceiros Voluntários”, de
Maria Helena Johannpeter, mobilizou empresas e pessoas em
65 cidades do Rio Grande do Sul, mas nunca foi aproveitado
em outros estados:
"Somos internacionalmente reconhecidos, mas dentro do
nosso país não estamos recebendo atenção",
disse.
DEBORAH BERLINK
REGINA ALVAREZ
do jornal O Globo
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