As cerca
de 150 comunidades quilombolas do Brasil (onde moram descendentes
de escravos que se refugiavam em quilombos) deverão
receber neste ano investimentos em rede de água e esgoto.
As obras, porém, não virão sozinhas:
tubos, concreto e manilhas serão acompanhados de oficinas
de capacitação e pequenas ações
— definidas pelas próprias comunidades —
nas áreas de alimentação, a higiene e
saneamento.
“A participação dos moradores é
fundamental para que as obras tenham sentido e sejam parte
de um processo maior de resgate da capacidade de realização
da comunidade”, afirma o coordenador de mobilização
da Funasa (Fundação Nacional de Saúde)
, Nelson Muchagata. As iniciativas fazem parte do projeto
“Fortalecimento das Ações em Saúde
Indígena e Saneamento em Comunidades Remanescentes
de Quilombos”, assinado recentemente pelo PNUD e pela
Funasa e ligado ao Vigisus II, do Banco Mundial.
Algumas das comunidades quilombolas estão entre os
locais mais pobres do Brasil. Um levantamento do governo federal
apontou que em 126 delas (86%) predonimam famílias
que tinham, em 2003, uma renda de no máximo dois salários
mínimos por mês. Essa renda é formada
em boa parte de dinheiro vindo de verbas públicas,
como Previdência Social (fonte de renda das famílias
em 126 comunidades) e outros progamas sociais. As ações
de saneamento são especialmente importantes porque
podem evitar problemas de saúde decorrentes das más
condições de vida nesses locais.
As obras da Funasa incluem construção de banheiros,
rede de água e esgoto e melhorias de saneamento. “As
necessidades variam de local para local, mas nenhum tem rede
de saneamento”, afirma Guilherme Macedo, coordenador-técnico
do Vigisus. A implementação das melhorias ainda
não começou; o prazo para conclusão é
de quatro anos.
Em algumas comunidades quilombolas, as oficinas de capacitação
já começaram. Em geral, essas ações
iniciam-se com debates com moradores, em que são abordados
temas relacionados às necessidades locais. Em seguida,
eles propõem ações concretas para tentar
resolver problemas ligados a alimentação, higiene
e saneamento.
Experiências anteriores da Funasa já recolheram
soluções tão variadas como preparação
de uma horta experimental, resgate de técnicas de arado
antes praticadas pela comunidade, desenvoovimento de psicultura,
organização de mutirão de limpeza e pesquisa
sobre a cultura local. Freqüentemente a própria
comunidade se encarrega de pôr as sugestões em
prática; quando necessário, alguns recursos
são disponibilizados por órgãos locais
—Funasa, prefeituras, unidades do Ibama (Instituto Brasileiro
dos Recursos Naturais Renováveis), da Embrapa (Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
O processo inclui ainda a formação de uma comissão
local para definir e acompanhar medidas que complementem essas
ações iniciais. Isso envolve, por exemplo, estabelecer
demandas e elaborar pedidos às prefeituras e organizar
a comunidade para pressionar por melhorias.
As informações são
do PNUD Brasil.
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