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economia
02/12/2003
Brasil terá outra década 'perdida', diz estudo

Pelos cálculos do economista Mark Weisbrot, que tomam por base projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) e resultados da economia brasileira, a expansão anual da renda per capita nos cinco primeiros anos desta década deve ficar em torno de 1%.

"Com isso, o Brasil deve seguir o mesmo ritmo lento das duas décadas anteriores. É uma grande decepção para quem esperava que as reformas fossem pôr o país nos trilhos do desenvolvimento sustentado", disse o economista americano, um dos autores do estudo.

Na década de 80, segundo os números citados pela pesquisa, a renda per capita do brasileiro – resultado da divisão do Produto Interno Bruto (PIB) pelo número de habitantes do país – cresceu 0,9%. Nos anos 90, esse percentual caiu um pouco, ficando em 0,7%.

São números muito inferiores aos das décadas de 50 (3,8%), 60 (3,9%) e 70 (5,9%), de acordo com a pesquisa intitulada Outra Década Perdida?.

"Os brasileiros acham que os resultados das décadas de 60 e 70 foram resultado de um milagre. O crescimento foi, sim, sustentado pelo endividamento, o que não é bom, mas, nos anos 90, também houve um enorme aumento da dívida e o país pouco cresceu", disse Weisbrot.

"Infelizmente, não apenas no Brasil, mas em toda a América Latina, estamos vendo a repetição de um padrão de crescimento - ou de estagnação - que já vem sendo observado há mais de duas décadas", concluiu Mark Weisbrot.

Fantasia
Para reverter esse resultado e chegar perto do resultado dos anos 60 e 70, a renda per capita brasileira teria que dar saltos anuais de 9,3% nos últimos cinco anos desta década, uma proeza alcançada apenas pela China na história econômica recente.

"Seria uma fantasia achar que isso é possível", disse o pesquisador.

Segundo o estudo, algumas das causas para o que eles chamam de "fracasso" das economias latinoamericanas pode estar nas reformas neoliberais implementadas nos países da região a partir dos anos 80.

Ele cita, por exemplo, a substituição de uma política de desenvolvimento industrial pela abertura do país para importações.

"O discurso da época era de que insumos importados mais baratos impulsionariam o desenvolvimento. Isso não aconteceu. Nenhum país do mundo se desenvolve se abrindo para exportação. Os Estados Unidos nunca fizeram isso, a Alemanha nunca fez isso, a China não faz isso", afirmou Weisbrot.

Ele citou também as elevadas taxas de juros no Brasil como parte dessas receitas neoliberais que frearam o crescimento brasileiro.

"A política de juros altos, endossada pelo FMI, exige um aperto fiscal imenso, inconcebível. Milagre é o país não estar numa recessão profunda com taxas tão altas", disse.

"Não é sempre fácil isolar as causas de um fenômeno dessa magnitude, mas precisamos deixar claro que algo sério aconteceu. A região teve o pior resultado de sua história recente nesses últimos 25 anos. Nem a Grande Depressão teve um impacto tão nocivo", afirmou Weisbrot, acrescentando que, apesar dos problemas, houve progressos.

"Você tem exemplos positivos. A privatização das telecomunicações no Brasil, por exemplo, melhorou o serviço", disse.

Coréia do Sul
Para ele, chamar o desempenho econômico dos anos 60 e 70 de milagre é não querer admitir o fracasso das décadas posteriores.

Países como a Coréia do Sul, segundo ele, provam que é possível viver um "milagre" por muitas décadas.

Em 1960, a renda do brasileiro era, em média, duas vezes e meia superior à do sul-coreano.

Essa situação foi, aos poucos, se revertendo até que, hoje em dia, o sul-coreano ganha, em média, duas vezes e meia o que ganha o brasileiro, de acordo com o estudo.

"A Coréia nunca abandonou uma política desenvolvimentista. Até hoje, não há muitos carros importados no país. Um certo grau de protecionismo foi importante para os Estados Unidos, para a França, para a Alemanha. Por que não seria bom para o Brasil?", questionou.

O economista participou, em Miami, das discussões para a criação da Área de Livre Comércio das Americas, a Alca.

Para ele, o Brasil tem que tomar cuidado para, nas negociações de acesso a mercados para a criação da Alca, não deixar ganhos na área agrícola prejudicarem o desenvolvimento de setores da indústria brasileira.

"Os Estados Unidos nunca vão aceitar uma Alca que não dê a eles as vantagens que a comunidade empresarial quer. O Brasil precisa ficar atento. De que adianta exportar mais produtos agrícolas se a indústria é impedida de crescer? Que país no mundo se desenvolveu por exportar mais soja?", questionou o economista.

 

SILVIA SALEK
Da BBC Brasil

   
 
 
 

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