Em clima de ceticismo e de cobrança de recursos, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva lançou ontem o "Plano Presidente
Amigo da Criança e do Adolescente", ao abrir a
5ª Conferência Nacional dos Direitos da Criança
e do Adolescente, no Clube Militar de Brasília, na
presença de 1.200 pessoas.
O plano prevê ações nas áreas
de saúde, educação, segurança
e prevenção à Aids entre crianças
e adolescentes. As metas foram fixadas para 2007, um ano depois
do fim do atual mandato de Lula, coincidindo com o período
de abrangência do Plano Plurianual de Investimentos
do governo.
Somados os recursos nas diversas áreas e nos diferentes
programas do governo, como o Bolsa-Família, Saúde
da Família, erradicação do analfabetismo
e outros, o governo federal pretende investir R$ 55,9 bilhões
no período de 2004 a 2007 nas ações voltadas
para as crianças e adolescentes.
O coordenador do Laboratório de Políticas Públicas
da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), Emir Sader,
presente ao evento, disse ter muitas dúvidas a respeito
do alcance das metas.
"É preciso ver na prática que recursos
vão ser liberados. Infelizmente, as intenções
têm que passar pelo filtro do ajuste fiscal, que continua
sendo um gargalo muito estreito neste governo", disse.
"Nesta primeira metade do governo, eu não vejo
como materializar esse plano. Se não houver uma mudança
significativa no ano que vem, acho que o perfil do governo
já estará definido como recessivo e conservador",
disse.
Sader afirmou que todos os governos que tentaram conciliar
o modelo econômico neoliberal com a prioridade social
fracassaram, como na Argentina, no México, no Uruguai
e na Bolívia.
O representante da Andi (Agência Nacional dos Direitos
da Infância), Marcus Fuchs, afirmou que a principal
preocupação da sua entidade é a "total
desarticulação das entidades governamentais
e não-governamentais nos Estados e municípios".
Segundo ele, nem todos os municípios têm conselhos
tutelares, embora essa seja uma obrigação legal.
"Duvido que essas ações (anunciadas ontem)
sejam suficientes para reverter esse quadro", afirmou.
O vice-presidente do Conanda (Conselho Nacional dos Direitos
da Infância e da Adolescência), José Fernando
da Silva, afirmou que o lugar da criança e do adolescente
não é na escola nem na família, é
no orçamento público. Segundo ele, enquanto
eles não forem contemplados com recursos públicos,
não haverá condições para implantar
o Estatuto da Criança e do Adolescente.
O secretário especial dos Direitos Humanos, Nilmário
Miranda, afirmou que "se não houver crescimento,
não há como fazer mudança". Segundo
ele, o Orçamento do ano que vem foi feito com uma previsão
de crescimento da economia de 3,5%. "Todas as metas estão
vinculadas à perspectiva de crescimento econômico."
Lula disse que quer participar da 6ª conferência,
no ano que vem, e que quer ser cobrado. "O político
precisa ser cobrado, assim como os filhos, senão outras
prioridades vão tomando conta da cabeça das
pessoas." Segundo ele, "o Estado pode menos do que
vocês imaginam, e a sociedade organizada pode muito
mais".
O discurso mais aplaudido foi o da adolescente Luana Raquel,
representante dos meninos e meninas de rua do Piauí.
Ela reivindicou a responsabilização penal das
autoridades que descumprem o Estatuto da Criança e
do Adolescente, condenou a proposta de reduzir a maioridade
penal e disse que as crianças de hoje não serão
o futuro do país, como se costuma dizer, se não
tiverem presente.
WILSON SILVEIRA
GABRIELA ATHIAS
Da Folha de S. Paulo, sucursal de Brasília
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