São Paulo - Sem conseguir
os recursos previstos para 2003 e com sérias dificuldades
para quitar as contas do ano, os reitores das universidades
federais começam a pressionar o governo para garantir
pelo menos R$ 777 milhões no orçamento de 2004.
A associação que representa os dirigentes das
54 instituições federais de ensino superior
reuniu nesta quarta-feira cerca de 100 deputados e senadores,
num café da manhã em Brasília, para pedir
apoio junto aos ministérios da Educação
e do Planejamento e garantir que a quantia seja prevista no
projeto orçamentário que fecha em 15 de dezembro.
As federais pediram para o ano que vem, inicialmente, R$
551 milhões para cobrir basicamente as despesas de
custeio, mas a experiência de 2003 levou a Associação
Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais
de Ensino Superior (Andifes) a antecipar um pedido suplementar
de R$ 261 milhões. Há duas semanas, a Comissão
de Educação da Câmara dos Deputados aprovou
menos: R$ 226 milhões. Mas os recursos ainda terão
de ser aprovados e incluídos pela Comissão do
Orçamento.
A presidente da Andifes, Wrana Panizzi, diz que a suplementação
foi pedida para implementar o Plano de Expansão e Modernização
do Sistema Federal do Ensino Superior, que prevê entre
outras coisas duplicar o número de alunos de graduação
e pós-graduação, formar 50 mil professores
e criar 25 mil vagas em cursos noturnos. “Mas já
sabemos que o dinheiro da suplementação será
necessário também para o custeio das instituições”,
explicou Wrana ao Estado.
Faltam R$ 48 milhões
A representante explicou aos parlamentares que as universidades
federais vêm acumulando dívidas e que entraram
em 2003 com R$ 32 milhões em restos a pagar. “Além
disso, neste ano tivemos três semestres por conta da
greve nas federais e do conseqüente acúmulo de
atividades atrasadas, isso elevou os custos”, acrescentou.
Segundo Wrana, o governo ainda não liberou R$ 48 milhões
dos recursos prometidos para o ano.
O orçamento das universidades em 2003 foi de R$ 473
milhões e a Andifes conseguiu aprovar uma emenda no
valor de R$ 78 milhões. Pediu ainda uma suplementação
orçamentária de R$ 66 milhões para fechar
as contas de instituições que estão em
atraso com luz, água, telefone e serviços terceirizados.
Ao que tudo indica, os R$ 66 milhões não sairão.
Quanto à emenda, só R$ 30 milhões foram
liberados, há duas semanas, e só agora começam
a chegar às instituições.
“Os R$ 48 milhões restantes têm de sair
até 15 de dezembro, senão as universidades não
vão poder usar o dinheiro”, alertou Wrana, lembrando
o prazo legal para utilização de recursos orçamentários.
“Pedimos aos parlamentares que nos ajudem a conseguir
a liberação dos recursos com urgência
urgentíssima, e eles nos deram apoio unânime.”
Custos aumentaram
Segundo Wrana, que é reitora da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, as federais tiveram um aumento médio
de 32% em seus custos, sobretudo com tarifas de serviços,
combustíveis e serviços terceirizados (limpeza,
segurança etc). Nesta quinta-feira, a representante
e parlamentares da Comissão de Educação
têm encontro com o ministro Cristovam Buarque. “Queremos
saber o que vai acontecer com as universidades”, disse
a reitora.
Ela rebateu a crítica de que as universidades federais
drenam recursos públicos lembrando que é no
ensino superior que se formam bons professores do ensino fundamental
e médio. “Não queremos tomar os recursos
da educação das crianças e jovens, queremos
ter professores e alfabetizadores bem formados, e para isso
temos de ter uma boa unversidade”, disse. “O sistema
educacional tem de ser tomado como um todo.”
Wrana lembrou ainda que, em vez de pensar nos recursos que
vão para a universidade e não para a educação
fundamental, a sociedade poderia pensar nos bilhões
que o País gasta com juros da dívida externa
e o quanto tem de cortar em investimentos para manter o superávit
primário das contas do governo.
Ela explicou que os vestibulares estão garantidos,
de certa forma, porque os recursos vêm das taxas de
inscrições, via fundações. Mas
houve dificuldades em algumas instituições,
que tinham seus recursos vinculados ao orçamento.
David Moisés
Da Agência Estado
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