Quase 30%
dos alunos de universidades públicas paulistas fizeram
todo ensino médio em escolas públicas. O índice
corresponde à média de matrículas em
2003 nas universidades de São Paulo (USP), Estadual
Paulista (Unesp) e de Campinas (Unicamp). Nessa época
de vestibular, a notícia é animadora —
prova que não é uma missão impossível
para quem não estudou na rede particular entrar na
universidade gratuita.
A instituição que mais tem inscrição
no vestibular e matrículas de alunos de escolas públicas
é a Unesp. O fato de suas unidades serem espalhadas
por todo Interior de São Paulo, onde o número
de escolas particulares é menor, é um dos fatores
para essa procura. No Interior, as escolas públicas
também estariam mais próximas da comunidade
e, por isso, seriam mais “fortes”.
Em 2003, 38% dos 5.680 candidatos que ingressaram na Unesp
eram estudantes das redes municipal, federal ou estadual (veja
quadro). “Além do fator geográfico, também
temos cursos que se repetem em turnos e cidades, o que facilita
principalmente para o aluno que tem de trabalhar”, afirmou
o coordenador da Fundação para o Vestibular
da Unesp (Vunesp), Fernando Prado.
Apesar de ter um bom percentual de alunos de escolas públicas,
em comparação com o das demais universidades
paulistas, a Unesp tem visto o número desses estudantes
diminuir ao longo dos últimos nove anos. Em 1995, 56,4%
dos seus ingressantes eram da rede pública. Para Prado,
a queda pode ser ligada à mudança do currículo
das escolas estaduais. “O número de aulas das
disciplinas básicas caiu. Por isso, nos últimos
anos, procuramos não aumentar o nível de dificuldade
das provas”, disse.
Avaliação semelhante tem Renato Pedrosa, coordenador
adjunto e de pesquisa do Vestibular da Unicamp. Na Unicamp,
os números de inscritos no vestibular e de matriculados
têm se mantido estáveis desde 1989 — cerca
de um terço. “As escolas particulares reforçam
as matérias básicas, como química, física,
matemática e biologia. E os professores mais qualificados
vão também para as particulares”, disse.
Mito que afasta
Para ele, há um mito de que o ingresso na
universidade pública é muito difícil
para quem não cursou a escola particular. “Mais
de 80% dos alunos se formam na rede pública e, mesmo
assim, eles não se tornam candidatos. A universidade
pública fica com a imagem de que só quem entra
é rico, o que não é verdade”, disse.
Segundo o perfil dos ingressantes da Unicamp de 2003, 41,5%
têm renda familiar de até 10 salários
mínimos. Em 1999, 22,9% tinham renda de até
10 mínimos.
O coordenador da Fundação para o Vestibular
da USP (Fuvest), Roberto Costa, também acredita que
muitos alunos se auto-excluem da universidade pública
para ir trabalhar. Das universidades paulistas, a USP é
a única que tem visto um aumento gradativo no número
de ingressantes da rede pública — de 19,8% em
1999 para 22,5% em 2003. “É difícil detectar
as razões, mas uma das causas desse aumento também
pode ser a presença mais forte da escola pública
na mídia”, disse.
Viviane Raymundi,
do Diário de S.Paulo.
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