Os valores das aposentadorias do
setor privado terão forte queda, que varia de 6% a
40%, com o aumento da expectativa de vida do brasileiro que,
pela primeira vez, passa da faixa de 70 anos e sobe de 7%
a 59%, segundo a tabela de mortalidade divulgada ontem pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com o especialista Newton Conde, da empresa de
consultoria atuarial Watson Wayatt, o achatamento ocorre porque
a tabela é um dos itens que entram no cálculo
das aposentadorias. O percentual de queda no valor do benefício
vai depender da idade, do tempo de contribuição
e da expectativa de vida do segurado.
Segundo Newton Conde, para se aposentar com um valor de benefício
igual ao que teria pela tabela anterior (de 2001), sem sofrer
as perdas provocadas pela tabela nova, o segurado, seja homem
ou mulher, terá de trabalhar mais dois anos.
A expectativa de sobrevida é utilizado na fórmula
de cálculo do chamado fator previdenciário —
um dos componentes que define o valor da aposentadoria por
tempo de contribuição. O número do fator
é multiplicado pelo resultado da média das 80
maiores contribuições do segurado a partir de
julho de 1994 em diante, explica o INSS.
Segundo Newton Conde, normalmente, a tábua de expectativa
de vida do IBGE aumenta em torno de dois a quatro meses os
anos a mais que, teoricamente, o brasileiro teria de vida.
Mas desta vez, esse tempo aumentou em 32 meses, ocasionando
o forte impacto no fator previdenciário e, em conseqüência,
nos benefícios. Isto porque o IBGE, este ano, aperfeiçoou
as estimativas de mortalidade da população,
revisando os números de 1980 a 2001.
Foram incorporados aos cálculos os resultados definitivos
do Censo 2000, além das informações sobre
nascimentos e óbitos das Estatísticas do Registro
Civil de 1999 a 2001, e dos dados da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (PNAD) de 2001.
De acordo com Newton Conde, o brasileiro que hoje possui
39 anos tem um ganho na expectativa de vida de dois anos e
quatro meses ou 7% a mais em relação à
tábua anterior. O ganho para uma pessoa que hoje chega
aos 53 anos é de 11%, ou seja, dois anos e seis meses
a mais. E para uma pessoa que chega aos 80 anos, a expectativa
de sobrevida passou de cinco anos e nove meses para nove anos
e dois meses a mais, ou seja, um aumento de 59% em relação
aos que tinham a mesma idade pela tabela antiga.
Assim, com a atualização, uma pessoa que se
aposentar hoje aos 48 anos, tendo média de salário
de contribuição em torno de R$ 1 mil, terá
perda de cerca de 6%, ou seja, de R$ 35 a R$ 50 no valor do
benefício, dependendo do tempo de serviço/contribuição.
A perda será maior quanto mais idade tiver o segurado
na hora de se aposentar. Para uma pessoa que se aposentar
aos 53 anos, a perda será de 8%, R$ 50 a R$ 80 e aos
60 anos, de 11%, entre R$ 90 e R$ 180, nas mesma condidções.
Em casos extremos, explica Newton Conde, como uma pessoa que
contribuiu dos 20 aos 80 anos antes de se aposentar, com média
de contribuição de R$ 300, terá uma perda
de R$ 400 a R$ 650 no valor do benefício, ou seja,
de aproximadamente 40%, pois o seu fator previdenciário
recua de 2,664 para 1,774 com a mudança da expectativa
de vida.
Um homem, com 55 anos de idade, média de contribuição
de R$ 700 e 35 anos de tempo de serviço, teria uma
aposentadoria de R$ 603 pela tabela antiga (com fator previdenciário
de 0,862). Com a tabela nova, o benefício recua para
R$ 554 (fator previdenciário cai para 0,791). Em média,
como a maioria das pessoas se aposenta entre 50 e 60 anos,
a perda média no valor do benefício vai girar
em torno de 10%, diz Newton Conde.
ELZA YURI HATTORI
Do Diário de S. Paulo
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