Após um ano de recorde de
inadimplência nas universidades privadas do país,
70% dos alunos devedores (560 mil) conseguiram renegociar
suas dívidas em dezembro e janeiro últimos,
de acordo com a ABMES (Associação Brasileira
de Mantenedoras de Educação Superior) e o Semesp
(Sindicato das Mantenedoras do Estado de São Paulo).
No ano passado, 33% dos estudantes da rede privada de ensino
superior do país estavam inadimplentes (800 mil alunos).
Em São Paulo, cerca de 25% deles não estavam
com as mensalidades em dia (209 mil), mais do que o dobro
da média histórica de 12%.
A legislação da educação permite
que o estudante inadimplente continue cursando o ano letivo
após a matrícula. Mas, no ano seguinte, a matrícula
pode ser recusada caso o pagamento das mensalidades não
esteja em dia.
"Tem de haver uma renegociação. Não
há o que fazer", afirma Edson Franco, presidente
da ABMES. Segundo ele, a maior parcela de inadimplentes vem
de classes de renda mais baixa.
"Pela exigência do mercado, eles arriscam entrar
na universidade particular e pensam nas mensalidades depois.
Acreditam, por exemplo, que conseguirão entrar no Fies
[Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superiores,
que, no ano passado, teve cerca de 1 milhão de inscritos
para 70 mil benefícios]. É limitado. Faltam
mecanismos de financiamento para essa população",
afirma Franco.
Antonio Carbonari, vice-presidente do Semesp, afirma que
os principais meios utilizados pelas universidades são
o parcelamento da dívida dos estudantes em 12 vezes
ou mais, a negociação do 13º salário
para o pagamento do saldo devedor e o trancamento da matrícula
até que o aluno regularize a sua situação.
"Uma grande parte dos que não conseguem renegociar
as dívidas perdeu o emprego durante o último
ano", afirma Carbonari.
A alta inadimplência é apenas um dos problemas
do setor. A concorrência teve um aumento recorde -o
número de universidades privadas no país cresceu
45% em dois anos, o que provocou alta da ociosidade das vagas
(37,4% das vagas oferecidas).
A Universidade da Amazônia, no Pará, optou por
oferecer bolsas restituíveis para os estudantes em
dificuldades financeiras. O abatimento da mensalidade, em
geral, é de 20% a 40%. Essa parcela deverá ser
paga pelo aluno após a formatura. A instituição
destina 5% (R$ 4,9 milhões) de seu faturamento para
isso. A renegociação foi feita com cerca de
2.000 dos 17 mil alunos da instituição.
LUIS RENATO STRAUSS
da Folha de S. Paulo
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