Ao fazer um balanço do Fome Zero, o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva admitiu falhas no primeiro ano de implantação
dos programas na área social -apesar de dizer que o
governo fez tudo o que podia-, elogiou os ex-ministros da
área José Graziano e Benedita da Silva e disse
que o investimento no setor vai depender do crescimento da
economia.
"O programa Fome Zero e o Bolsa-Família, na minha
opinião, estão consolidados no nosso país.
Falta agora atender à plenitude de pessoas que precisam
ter acesso a eles. E isso exige recursos. E para ter recursos
a economia precisa crescer. Precisamos arrecadar mais e colocar
mais dinheiro na política social", afirmou Lula.
O primeiro ano do governo Lula foi marcado por um forte ajuste
fiscal -na área social, o corte chegou a R$ 5 bilhões.
Ontem, o ministro Guido Mantega (Planejamento) afirmou que,
neste ano, o orçamento do Bolsa-Família e do
Fome Zero serão executados. "Os compromissos que
assumimos [na área social] serão cumpridos na
sua íntegra", disse.
Para marcar o primeiro ano do Fome Zero, principal marca
social do governo, Lula improvisou um discurso de 40 minutos.
Elogiou ex-assessores e ministros e foi vago sobre mudanças
ou novos caminhos para a área social.
"Estou convencido de que possivelmente cometemos muitos
erros neste primeiro ano. E não poderia ser diferente.
A coisa que eu mais queria na vida era que meu filho aprendesse
a andar sem cair, sem levar nenhum tombo, mas ele teve muitos
tombos até aprender a andar", disse o presidente.
Um dos elogiados foi Oded Grajew, que tomou a iniciativa
de sair do governo no fim de 2003.
No dia 23 de janeiro, Lula fez a sua primeira reforma ministerial.
Uniu as pastas da Segurança Alimentar com a da Assistência
Social, demitindo, assim, Graziano e Benedita, respectivamente.
No lugar de ambos entrou o ministro Patrus Ananias, e o ministério
passou a se chamar Desenvolvimento Social e Combate à
Fome.
Na opinião de Lula, o Fome Zero fez, em seu primeiro
ano, muito mais do que poderia ser feito. Disse que os números
de atendimento "mostram que o ceticismo demonstrado por
algumas pessoas sobre o programa não havia razão
de ser". O Fome Zero está presente em 2.369 municípios
e atende a 1,9 milhão de famílias.
Como pontos positivos, Lula citou também a participação
da sociedade, com doações de alimentos, e dos
empresários, financiando algumas ações.
Saudou Patrus dizendo que, para trabalhar nessa área,
é preciso ter "bom coração",
que é, segundo Lula, o caso dele e dos ex-ministros
da área.
"Por isso a tarefa de vocês é difícil,
mas boa, que só pode ser feita por pessoas que têm
o coração como tem o Graziano, como tem a Benedita,
como têm vocês."
Em relação aos rumos dos programas sociais,
Lula disse apenas que é hora de levá-los às
periferias das grandes cidades.
Ao falar sobre a criação de um fundo internacional
de combate à fome e à pobreza, foi implacável
com os países desenvolvidos e suas políticas
protecionistas. "[Com] Os países ricos, quando
falam em doar alimentos, nós precisamos tomar cuidado,
porque, muitas vezes, pode ser muito mais para ajudá-los
com a sua produção agrícola do que para
ajudar os famintos."
O presidente disse que o caminho para combater a fome é
transferir o problema à esfera política. "Ou
criamos um movimento político para transformar esse
problema social da fome num problema político ou será
muito mais difícil, porque os famintos não estão
organizados em sindicatos e em partidos políticos.
Estão dispersos nas mais diferentes periferias deste
país." O presidente informou que enviará
cartas aos presidentes do mundo pedindo sugestões sobre
o assunto.
GABRIELA ATHIAS
EDUARDO SCOLESE
da Folha de S. Paulo, sucursal de Brasília
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