O
vice-presidente do Itaú, Antonio Jacinto Matias, fala
com orgulho do termo que inventou para si mesmo: educochato.
Mas ele não quer ficar com o título sozinho.
"Precisamos criar uma rede de educochatos, assim como
os ecochatos falavam o tempo todo do verde, temos que fazer
isso com a educação", afirma. A tal rede
resume o movimento que será lançado na quarta-feira
na capital, chamado de Todos pela Educação.
O compromisso reúne os maiores empresários do
País e propõe metas que devem ser atingidas
até 2022, no bicentenário da independência
brasileira.
Matias explica que o grupo não está em busca
de dinheiro ou de indicar o modelo ideal para o ensino público
de qualidade. E sim de conscientização e paixão.
"Todo mundo fica chateado se o Brasil perde a Copa do
Mundo. Mas o Brasil fica em último lugar numa avaliação
como o Pisa, todo mundo olha, não dá emoção
nenhuma. O que a gente quer é que a imprensa dê
manchete, que as pessoas mandem cartas para o jornal indignadas,
que discutam na escola." Veja os principais trechos da
entrevista concedida ao Estado.
Quando se fala em um movimento de empresários, imagina-se
que eles vão dar dinheiro para a educação.
Isso vai acontecer?
Vamos criar um fundo, mas só para gerenciar o movimento.
Os empresários já dão muito dinheiro.
Só a Febraban dá R$ 250 milhões para
a educação por meio de suas entidades. Mas isso
é uma gota d'água, não existe a menor
possibilidade de que a sociedade civil possa substituir o
Estado como provedor da educação. Pode fazer
projetos, influenciar. Mas não estamos resolvendo o
problema. Você pode juntar todos os empresários
brasileiros e se eles puserem todos seus recursos, isso não
afeta 1%.
Como surgiu o movimento?
O compromisso Todos pela Educação é uma
idéia que encontrou seu tempo. Pessoas como Milu Vilela,
Luiz Norberto Pascoal, Viviane Senna, Zé Roberto Marinho,
Denise Aguiar, Ana Maria Diniz, Gerdau, entre muitos outros,
perceberam que suas idéias se encontravam. Tivemos
também receptividade do setor público, que achou
formidável a sociedade civil se mobilizar para transformar
a educação numa prioridade nacional. Estamos
falando de um pacto. A sociedade brasileira precisa cobrar
educação, torcer pela educação
e ajudar no processo.
Mas como conseguir isso?
Para ter viabilidade percebemos que era preciso ter metas
simples, que a sociedade conseguisse acompanhar. Vamos lançá-las
no evento depois de amanhã, mas serão coisas
como pedir educação de qualidade ou que todas
as crianças de 8 anos estejam alfabetizadas. Todo mundo
entende isso. As pessoas podem começar a cobrar. Se
é mãe de aluno, cobra da escola. Ou do município,
do Estado, do País. Todo mundo fica chateado se o Brasil
perde uma Copa do Mundo. Mas o Brasil fica em último
lugar numa avaliação como o Pisa, todo mundo
olha, não dá emoção nenhuma. O
que a gente quer é que a imprensa dê manchete,
que as pessoas mandem cartas para o jornal indignadas, que
discutam na escola. A gente viu que em países onde
a educação mudou, teve uma mobilização
da sociedade.
Vocês buscaram exemplos fora?
Sim, na Coréia, Espanha, Irlanda e Chile. Mas não
existe uma fórmula. Quando você fala em mobilização
você fala em consciência, em despertar as pessoas,
o coração, a paixão. Cada país
vai buscar o seu caminho. Não vamos interferir nos
processos, escolher o modelo A ou B. Mas países com
problema de competitividade, de distribuição
de renda, de geração de PIB só deram
a virada quando a sociedade inteira escolheu a educação.
A educação na Espanha, por exemplo, foi fortemente
alavancada com a democracia, mas começou com um ato
da ditadura do Franco que obrigava as famílias a colocar
as crianças na escola. Acho que a gente precisa de
uma lei de responsabilidade educacional.
Como ela seria?
Obrigaria os governos a serem responsáveis com relação
à educação, como a lei de responsabilidade
fiscal. Pode também criar obrigação para
as famílias. Mas deve estar na linha de direcionamento
de recursos, efetividade, índices de qualidade que
devem ser perseguidos pelos governos. Algo que permita à
sociedade ter controle sobre a gestão. Há uma
grande ineficiência no aproveitamento dos recursos.
Quando se faz pesquisas com pais da rede pública eles
se dizem satisfeitos. Eles sabem o que é educação
de qualidade?
Para muitos, a criança está na escola e isso
basta. A educação de qualidade dá mais
trabalho às famílias. Mas acredito que haja
condições para discutir isso agora por causa
da economia. Existe uma relação direta entre
educação e renda. Com formação
escolar, a pessoa tem mais probabilidade de entrar no mercado
de trabalho, de ser produtiva e de ter mais renda. O país
fica mais rico.
Dá mesmo para mudar a importância da educação
no País?
Dá, se a sociedade cobrar, se eleger alguém
comprometido com o que já foi atingido. É preciso
exercer pressão. Eu me defini já para várias
pessoas como educochato. Tinha o ecochato que falava o tempo
todo do verde, temos que fazer o mesmo com educação.
Eu sempre coloco na conversa o nosso compromisso. Mas não
é simplesmente fazer a pessoa ouvir e dizer que é
simpático, ela tem que virar uma propagadora. Temos
que criar uma rede de educochatos.
Porque o ano de 2022 como meta?
Porque não há verdadeira independência
sem educação. E independência é
uma coisa que mexe com o indivíduo, não adianta
falar estruturalmente, de uma idéia genérica
de País, você tem de chegar ao nível do
indivíduo.
Renata Cafardo
O Estado de S.Paulo
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