As turmas
do ensino fundamental no Brasil estão mais democráticas.
Desde 1997, quando começou a valer a nova Lei de Diretrizes
e Bases da Educação (LDB), vem aumentando o
número de crianças com necessidades especiais
que estudam em salas regulares de ensino. O antigo isolamento
perdeu espaço para uma política de inclusão
que traz vantagens para todos os estudantes.
O número de crianças especiais em turmas regulares
no Brasil pulou de 43,9 mil em 1998 para 144 mil no ano passado
(alta de 228%). Elas ainda são minoria, cerca de 30%
do total de alunos que precisam de apoio extra para a aprendizagem.
O aumento foi estimulado pela LDB, mas só foi possível
porque dentro das escolas está havendo um trabalho
para vencer o preconceito.
"No começo alguns pais de outros alunos pediam
para que tirássemos as crianças especiais da
escola", conta a diretora da Escola Municipal Nair de
Macedo, de Curitiba, Maria de Lourdes Baggio. Hoje, dez deficientes
estão inseridos nas turmas do colégio. O processo
de inclusão foi estimulado pela Secretaria Municipal
de Educação e foi introduzido na escola em 2000.
Foram necessários dois anos até que o corpo
pedagógico da instituição superasse o
preconceito.
A inclusão das crianças especiais nas escolas
brasileiras ainda depende bastante da boa vontade de professores
e pedagogos. Poucos têm formação específica
para ajudar alunos com dificuldades sérias para aprender.
"Para que o processo seja mais eficiente, seria necessária
uma transformação profunda no nosso modelo de
ensino. A aprendizagem deveria incluir mais experimentações
e menos cobrança de respostas", defende o especialista
em educação inclusiva Paulo Ricardo Ross, professor
da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Aceitar as diferenças da criança com deficiência
é uma atitude que já muda a cara das salas de
aula. Cadeiras de roda e linguagem de sinais encontram espaço.
"A diferença é uma vantagem na sala de
aula", afirma Ross. Basta respeitar os limites de cada
um. A professora Marcela Pellanda, da Escola Nair de Macedo
está atendendo pela primeira vez um aluno com síndrome
de Down. "Está sendo uma experiência ótima,
mas sinto falta de ter estudado mais sobre como lidar com
ele", diz ela.
Na rede municipal de Curitiba, o número de crianças
especiais atendidas nas salas comuns passou de 252 em 2001
para 465 em 2003. Nem todas as escolas já estão
preparadas para a inclusão. "Nossa meta é
poder atender toda e qualquer criança", diz a
coordenadora de atendimento às necessidades especiais,
Maria Tereza Elias. O sistema curitibano tem turmas especiais
– para os casos em que ainda não é possível
a inserção numa sala comum – e centros
de atendimento onde há técnicos como fisioterapeutas
e fonoaudiólogos. Alguns estudantes freqüentam
a rede regular e escolas especiais ao mesmo tempo.
"Nossa proposta é que as turmas especiais sejam
transitórias, uma adaptação até
que a criança possa entrar numa sala comum", explica
a gerente de educação especial do município,
Carmen Lúcia Pellanda. Para auxiliar os educadores,
a secretaria tem um grupo de pedagogos que percorre as escolas.
Maria Tereza admite que o sistema de atendimento ainda está
em construção. "Dependemos da disposição
dos professores e vemos que muitos vêm aceitando a idéia,
inclusive participando de cursos de capacitação",
diz.
Na opinião da vice-presidente da Associação
de Apoio à Criança Deficiente (AACD), Ika Fleury,
a entrada de uma criança especial numa turma pode ser
um "sofrimento" para o professor que não
tem capacitação. "Não houve uma
política com cursos para preparar que trabalha na rede
de ensino. Eles precisam saber coisas simples, como engrossar
um lápis para quem tem pouca coordenação
motora, mas que fazem muita diferença", afirma.
A inclusão, segundo ela, é um processo irreversível.
"O momento é delicado porque deve haver planejamento
para garantir a eficiência do modelo."
As informações são
da Gazeta do Povo, de Curitiba -PR.
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