No ensino superior público, 53,1% das vagas ociosas são para
a formação de professores. De acordo com o Inep
(Instituto Nacional de Estatísticas e Pesquisas Educacionais),
em 2002, das 12.506 vagas não preenchidas, 6.641 são
da área de educação -os cursos normal
superior, de licenciatura e de pedagogia.
Os dados foram calculados pela primeira vez levando em conta
a diferença entre o número de vagas ofertadas
no vestibular e a quantidade de ingressantes.
As informações, tabuladas conforme convenção
internacional, são baseadas no Censo da Educação
Superior, cujos resultados iniciais foram divulgados em outubro.
O Inep calcula que a rede de ensino do país tem uma
demanda de 250 mil docentes.
Para José Marcelino de Rezende Pinto, diretor do Inep,
um dos principais fatores é o baixo salário.
"O setor não é competitivo. Em 2001, na
média do país, um professor ganhava R$ 866,
um policial civil recebia R$ 1.510, um economista, R$ 2.254,
um advogado, R$ 2.497, um médico, R$ 2.973, e um juiz,
R$ 8.321."
Além disso, ele aponta que, no setor público,
é na área de educação que são
oferecidas mais vagas. São 154 mil ao ano só
em licenciatura no país, comparadas a 15 mil em administração
e 12 mil em direito. "Maior a oferta, menor a relação
candidato/vaga, podendo, em alguns casos, sobrar vagas."
Finalmente, segundo Rezende Pinto, nem sempre as vagas são
oferecidas em regiões onde estão as demandas.
"Não basta que o curso seja gratuito. Se uma pessoa
do interior tem de fazer um curso na capital, talvez desista,
pois terá outras despesas, como alimentação
e moradia."
Na rede pública, 5% das vagas estão sem ocupantes.
Na particular, 37,5%. A maior ociosidade está em ciências
sociais, negócios e direito -216.236 (44,8%) das 482.507
matrículas não preenchidas no vestibular.
Segundo Carlos Monteiro, presidente do Grupo CM de Consultoria
Educacional, cursos como os de direito e de administração
são baratos para serem implementados, mas possuem mensalidades
altas, que ficam, em geral, entre R$ 400 e R$ 600. A possibilidade
de lucro com esses cursos estimula as instituições
a ampliarem o número de vagas -hoje, cerca de 25% dos
graduandos cursam direito ou administração.
No entanto a necessidade de cursos novos para estudantes
das classes A e B já foi suprida. As classes C e D,
cuja demanda reprimida é estimada em 3 milhões
de alunos, não conseguem pagar as mensalidades e, portanto,
não preenchem essas vagas.
LUIS RENATO STRAUSS
da Folha de S. Paulo, sucursal de Brasília
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