Líderes
do governo na Câmara dos Deputados praticamente descartaram
a possibilidade de o Palácio do Planalto cumprir a
promessa de campanha de dobrar o valor real do salário
mínimo nos quatro anos de mandato do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
"Neste ritmo, não se vislumbra a possibilidade
de dobrar o valor real do salário mínimo em
quatro anos, como o presidente gostaria de fazer", afirmou
o deputado Arlindo Chinaglia (SP), líder da bancada
do PT. "Em que pese o aumento real que será dado,
que levará a uma maior distribuição de
renda, não consigo vislumbrar [o aumento real até
2006]."
O novo líder do governo na Câmara, Professor
Luizinho (PT-SP), que assumiu ontem a função,
se contradisse sobre o tema durante o dia. À tarde,
na Câmara, afirmou que havia a possibilidade de o aumento
do salário mínimo ser retroativo ao dia 1º
deste mês. Depois de desmentido do Ministério
do Planejamento, voltou atrás e disse que o novo mínimo
valerá a partir de 1º de maio.
Até o ministro do Planejamento, Guido Mantega, deu
uma entrevista para desmentir o que dissera Luizinho. "Não
se pensa em fazer nenhum reajuste retroativo, e o governo
não tem definição sobre o salário
mínimo", afirmou.
Mais confusão
Luizinho, nas primeiras conversas sobre o tema, também
tentou sustentar a tese de que Lula nunca prometeu o aumento
real (descontada a inflação) de 100%, dizendo
que a promessa era dobrar o valor nominal, ou seja, sem descontar
a inflação nos quatro anos.
"O "real" aí é por sua conta.
De onde você tirou isso, quando o presidente falou em
dobrar o valor real do mínimo? É aumento nominal",
afirmou o líder do governo, acrescentando que mesmo
o aumento nominal de 100% não está garantido.
"Vamos esperar, estamos tentando", disse.
No seu pronunciamento à nação na ocasião
dos cem dias de governo, o presidente Lula repetiu aquilo
que consta em seu programa de governo: "Quero repetir
a vocês o que disse durante toda a campanha: até
o final do meu governo, vamos dobrar o poder de compra do
salário mínimo", afirmou o presidente à
época.
À noite, Luizinho retificou mais uma vez o que disse,
assumindo o compromisso pelo aumento real, mas adotou um parâmetro
em dólar ao afirmar que a promessa será cumprida.
"Recebemos o governo com o mínimo em US$ 56, podemos
chegar a US$ 112." Na cotação de fechamento
de ontem, este valor representaria R$ 322.
Cálculos hoje que circulam no Congresso dão
conta de que o mínimo deveria ser --mantidas as atuais
perspectivas de inflação-- superior a R$ 520,
em 2006, para que a promessa fosse cumprida.
Lula assumiu com um salário mínimo de R$ 200.
Em abril de 2003, houve um aumento real (descontada a inflação)
de menos de 2%, passando o valor do mínimo de R$ 200
para R$ 240.
Na proposta de orçamento enviada pelo Executivo ao
Congresso em agosto do ano passado há a previsão
de um aumento para R$ 259, sem ganho real, ou seja, só
haveria a reposição da inflação
prevista entre abril de 2003 e abril de 2004, que era de 7,92%.
RANIER BRAGON
da Folha de S.Paulo
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