A qualificação
educacional e profissional do brasileiro teve desempenho bem
melhor do que o da economia nos últimos 30 anos. A
relação foi traçada pelo economista Roberto
Cavalcanti de Albuquerque, diretor técnico do Instituto
Nacional de Altos Estudos (Inae), que, para isso, desenvolveu
um novo indicador: o Índice de Capital Humano (ICH).
O indicador, criado a partir do componente educação
do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), apura a
performance do capital humano nas diversas regiões
e Estados do Brasil entre 1970 e 2000, comparando-a ao crescimento
do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas geradas
no país).
"A relação é válida porque
o capital humano é considerado um dos principais componentes
da atividade econômica de um país", explica
Albuquerque.
O ICH leva em conta a variante educacional na população
de 15 anos ou mais, informação que é
cruzada com o crescimento demográfico das regiões.
"Quando traçamos o crescimento do PIB brasileiro
no período 1970-2000 e o confrontamos com o desempenho
do ICH, observa-se que o último teve melhor performance
do que o primeiro. Isto significa que o Brasil não
vem aproveitando as melhorias educacionais da população",
analisa o economista.
De acordo com Albuquerque, o desempenho quantitativo da escolaridade
no país nos últimos 30 anos foi de extrema importância.
O percentual das pessoas com quatro anos ou mais de estudo
passou de 28,5% para 69,9%, enquanto o número de pessoas
com oito anos ou mais de escolaridade saltou de 8% para 35%
no período. Já o contingente de brasileiros
com 11 anos ou mais de estudo passou de 3,8% para 19,8%.
Quando separado por regiões, o estudo apura que o
maior crescimento do ICH no período 1970-2000 foi obtido
pelo Norte (7,1% ao ano), seguido pelo Centro-Oeste (6,9%),
Nordeste (6%), Sudeste (4,9%) e Sul (4,8%).
"Nas regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste, a
evolução do índice se deu, preponderantemente,
pelo crescimento demográfico. Já Sul e Nordeste
tiveram seus ICHs puxados pelo componente educacional",
explica Albuquerque.
O diretor do Inae diz ainda que a relação PIB-ICH
deve manter a trajetória observada hoje, com o brasileiro
procurando mais qualificação para entrar num
mercado de trabalho inchado e incapaz de absorver este contingente.
"A reversão deste cenário só será
possível com a adoção de políticas
de ampliação de crédito e de aumento
da massa salarial. Desta maneira, o poder de compra dos trabalhadores
cresceria e, com ele, a recuperação da economia
e a conseqüente expansão sustentável do
PIB", observa.
O estudo do economista será apresentado hoje, no Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, durante
o Mini-Fórum Nacional, que marcará os 40 anos
de Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
O evento, organizado pelo Inae, abordará o desenvolvimento
econômico e social do país nas últimas
décadas.
DANIELE CARVALHO
do Jornal do Brasil
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