Cerca de 200 moradores fizeram ontem
na Via Ápia, na Rocinha, uma manifestação
pedindo paz. Na noite anterior, uma mulher morreu e dois homens
ficaram feridos durante intenso tiroteio entre traficantes
e PMs do Batalhão de Operações Especiais
(Bope) na comunidade. Ontem, o clima na favela era de medo.
Moradores observavam as marcas de tiros nas casas e recolhiam
cápsulas de fuzil encontradas nas vielas.
Segundo testemunhas, os policiais chegaram por volta das
20h de domingo, usando toucas do tipo ninja, gritando e atirando
a esmo. Assustado, o dono da pensão Garota da Rocinha,
Wellington Silva, contabilizava o prejuízo. Ele disse
que cerca de 15 pessoas jantavam na pensão quando os
policiais chegaram atirando.
"Foi horrível. Ainda era cedo e todos os clientes
que estavam jantando tiveram que se jogar no chão ou
se esconder no banheiro. Agora, a parede está toda
perfurada", disse.
Moradores disseram que foi uma verdadeira noite de terror.
A dona-de-casa Maria da Alice Miranda Martins, de 55 anos,
não conseguiu dormir tranqüila. Ela contou que
estava em casa com os netos quando, por volta das 21h, ouviu
os tiros.
"Ouvi um barulho que parecia uma explosão. Corri
para me deitar no chão do banheiro com meus netos.
Só ouvia os policiais dizendo para ninguém chegar
na janela".
A aposentada Maria do Socorro Bezerra contou ter visto quando
Regina Célia Rodrigues de Moura foi atingida pelo tiro
que a matou.
"Ouvi muitos tiros. Ela voltava da igreja evangélica
quando foi baleada", disse.
Revoltados, moradores reclamavam das constantes operações
policiais. Durante a manifestação, atores do
grupo de teatro Roça Caça Cultura, com cordas,
correntes e cápsulas de balas, simulavam ser vítimas
da violência policial. O presidente da associação
de moradores, William de Oliveira, disse ontem que vai reunir
uma comissão da favela para ir a Brasília conversar
com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.
"Não temos mais paz na Rocinha. Desde o início
de janeiro, durante essas operações, moradores
têm que conviver com tiroteios e são vítimas
de balas perdidas", disse, acrescentando que a comunidade
passará a filmar as operações policiais.
As informações são
do jornal O Globo.
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