Recém-criada pela Polícia
Civil, a Divisão de Fiscalização de Diversões
Públicas vai combater a exploração sexual
no Rio. A nova unidade começará a atuar na próxima
segunda-feira e será comandada pelo delegado Júlio
César Mulatinho. O chefe de Polícia Civil, Álvaro
Lins, anunciou ontem que até o carnaval a DFDP atuará
prioritariamente em locais onde há prostituição,
como termas, saunas e boates. A divisão também
reprimirá a atuação de agentes que oferecem
prostitutas a turistas por meio de catálogos de fotos
na Praia de Copacabana, como O GLOBO revelou ontem.
Quase ao mesmo tempo em que a nova medida era anunciada pelo
chefe de Polícia Civil, uma operação
de agentes do Serviço Reservado (P-2) do Batalhão
de Policiamento de Áreas Turísticas (BPTur)
da Polícia Militar prendia Edvaldo dos Santos, de 42
anos, acusado de ser um dos agenciadores de mulheres e até
de menores para programas sexuais com turistas estrangeiros.
Edvaldo foi flagrado pelos policiais com um catálogo
contendo fotos de mulheres e menores na Avenida Atlântica,
em frente a um hotel, em Copacabana, mesmo local onde repórteres
do GLOBO, fazendo-se passar por turistas, identificaram um
ponto de prostituição. O homem negou as acusações,
alegando que as fotografias são de amigas:
"As fotos são de amigas. Trabalho naquele trecho
da Praia de Copacabana há 32 anos. Sou o inventor da
expressão “fiscal da natureza”, que virou
moda na praia", disse Edvaldo.
14 anos de prisão
Levado para a Delegacia Especial de Atendimento ao
Turista, Edvaldo foi autuado em flagrante pelo delegado Ricardo
Andreiolo, titular da Deat. O policial entendeu que Edvaldo
explorava a prostituição de mulheres e menores,
e o enquadrou nos artigos 230 do Código Penal e 244
do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Pelo
primeiro crime ele poderá ser condenado a penas que
variam de um a quatro anos de reclusão. E pelo segundo
poderá cumprir de quatro a dez anos de prisão.
"A unidade terá o poder de multar e interditar
os estabelecimentos que incentivarem a exploração
sexual. A divisão foi criada com o objetivo de começar
a atuar antes do carnaval para combater essa prática,
principalmente em Copacabana", disse Álvaro Lins.
O chefe de Polícia Civil lembrou que prostituição,
em si, não é crime:
"O ilegal é a exploração da prostituição
por terceiros, o que a lei chama de lenocínio e rufianismo.
Esses agentes que oferecem mulheres em catálogos em
Copacabana são criminosos e serão investigados.
Neste caso, a investigação é mais difícil
por eles não serem ligados a um estabelecimento".
A prisão de Edvaldo aconteceu às 17h de ontem,
mas desde cedo os PMs do BPTur estavam observando o local.
Segundo eles, o homem usava o catálogo com a finalidade
de agenciar programas para turistas. Com Edvaldo foram apreendidos
dinheiro, um telefone celular, uma agenda com telefones de
várias mulheres e homens, além de um catálogo
com mais de 50 fotos de mulheres e menores em poses sensuais,
usando biquínis ou fazendo topless.
A DFDP foi criada em janeiro e será instalada na 14
DP (Leblon). Além do delegado Mulatinho, que é
o titular da 35 DP (Campo Grande) e já foi da Delegacia
de Proteção à Criança e ao Adolescente
(DPCA), a divisão terá 20 policiais. Segundo
Lins, a nova unidade também ajudará na investigação
de casos de prostituição que já tenham
sido registrados nas delegacias distritais e na DPCA.
"Mulatinho foi escolhido por já ter sido da DPCA
e, por isto, ter experiência na investigação
de casos de exploração sexual. A DPCA é
a delegacia que concentra o maior número de investigações
desse tipo", diz Lins.
O prefeito Cesar Maia disse que a polícia deve reprimir
a exploração:
"A exploração da prostituição
é caso de policia e deve ser reprimida. Com o material
divulgado pelo GLOBO tenho certeza que essas verdadeiras empresas
que exploram mulheres serão identificadas. Mas, infelizmente,
é assim em São Paulo, Nova York, Londres e Paris.
É um problema de grandes cidades".
O deputado Carlos Minc (PT) acredita que os agenciadores
tenham a conivência de policiais:
"Esses gigolôs praieiros estão trabalhando
nas barbas de todo mundo, então só pode haver
a conivência de autoridades, porque é tudo feito
com muita transparência. A Alerj tem que cobrar da polícia
um trabalho sério de investigação para
acabar com isso".
O deputado Alessandro Molon (PT), presidente da Comissão
de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Alerj, encaminhará
ofícios à DPCA, ao Ministério Público
e à Secretaria de Segurança pedindo rigor na
investigação da prostituição no
Rio. Ele espera contar com a ajuda da Polícia Federal.
"A comissão está elaborando um código
de conduta que será distribuído aos turistas
para mostrar o nosso repúdio ao turismo sexual. Tentaremos
uma parceria com a Polícia Federal para que eles distribuam
esse panfleto em portos e aeroportos", diz Molon.
As informações são
do jornal O Globo.
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