A crise de 2003 fez crescer em
42,5% o número de subocupados nas seis principais regiões
metropolitanas do país em relação a 2002.
São 865.537 pessoas que queriam uma jornada de trabalho
maior, mas não conseguem.
Outro dado que demonstra como o mercado de trabalho ficou
mais precário no país durante o primeiro ano
da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva é
o aumento dos trabalhadores sub-remunerados -que ganham menos
de um salário mínimo (R$ 240) por mês.
Esse contingente de trabalhadores aumentou 51,7% na comparação
de dezembro de 2003 com igual mês de 2002.
Os dados obtidos pela Folha constam na Pesquisa Mensal de
Emprego do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
e abrangem as áreas metropolitanas de São Paulo,
Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e Salvador.
Os subocupados, que eram 607.334 pessoas em dezembro de 2002,
passaram a 865.537 no último mês de 2003 -o que
equivale a 4,6% do total de ocupados nas seis principais regiões
do país. O número representa mais da metade
de pessoas ocupadas na região metropolitana de Belo
Horizonte.
Essas pessoas trabalham menos de 40 horas por semana, mas
gostariam e estão disponíveis para mais. Só
não o fazem porque o mercado de trabalho está
ruim.
Baixa remuneração
Em dezembro de 2003, os sub-remunerados eram 2,281 milhões
de trabalhadores. É pouco menos do que a metade das
pessoas ocupadas na segunda maior região metropolitana
do país, o Rio de Janeiro. Em igual mês de 2002,
havia 1,503 milhão de pessoas na mesma condição
nos seis centros pesquisados.
De acordo com Cimar Azeredo Pereira, gerente da pesquisa
de emprego do IBGE, o aumento dos subocupados está
ligado à queda do rendimento do trabalhador.
De março a dezembro de 2003 (período para o
qual o IBGE tem dados disponíveis), o rendimento médio
real do brasileiro teve queda de 12,9% na comparação
com igual período do ano anterior.
O raciocínio é o seguinte: com um rendimento
familiar menor, os membros secundários da família
(mulher e filhos) passaram a buscar uma colocação
no mercado de trabalho. Sem muitas opções, essas
pessoas se empregam com o que aparece, mesmo que para ganhar
pouco ou trabalhar uma jornada incompleta.
Um perfil dos subocupados traçado pelo IBGE reforça
tal teoria. A maioria desse contingente é mulher -especialmente
domésticas-, tem menos anos de estudo e está
na informalidade.
Do total de subocupados, 59,4% são mulheres -30% delas
trabalhavam em serviços domésticos.
A maioria dos subocupados está na informalidade: 43,9%
são empregados por conta própria, e 21,6%, sem
carteira. Os empregados em serviços domésticos
são 17,8% do total de subocupados.
Francisco Pessoa, economista da consultoria LCA, considera
que, além da retração da renda, o aumento
do desemprego (cuja taxa média no ano passado foi de
12,3%) também gerou um número maior tanto de
subocupados como de sub-remunerados.
Isso porque muitos chefes de família também
perderam seus empregos, sendo obrigados a se ocupar ainda
que de maneira precária. "Com a recuperação
do rendimento prevista para este ano, graças à
queda da inflação, essa situação
vai melhorar", avalia Pessoa.
Para Pessoa, os dois grupos "se sobrepõem".
Ele acredita que a maioria dos sub-remunerados sejam aqueles
que fazem "bicos", trabalhando poucas horas por
semana. "A maior parte são trabalhadores por conta
própria. Não há praticamente ninguém
nos grandes centros que tenha um emprego e ganhe menos do
que um salário mínimo", disse.
Segundo ele, a queda no rendimento também explica
o aumento do contingente de sub-remunerados.
O economista da PUC-Rio José Márcio Camargo
disse que a hipótese da renda pode explicar o crescimento
da subocupação. Mas ele acredita que uma parcela
importante desse contingente não cumpra uma jornada
maior porque o rendimento não compensaria o esforço.
Segundo Camargo, as mulheres estão menos expostas
ao mercado de trabalho por causa dos afazeres de casa e só
se sujeitam a trabalhar por um salário maior. Com a
crise na renda, acabaram aceitando o que apareceu.
Ele ressalta, porém, que muitas pessoas podem estar
subocupadas mesmo que tenham recebido uma proposta para trabalhar
mais horas. Não aceitaram porque o salário não
compensava.
PEDRO SOARES
da Folha de S. Paulo
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