Ao visitar ontem, sob chuva, as
áreas mais atingidas pelas enchentes em Pernambuco,
na Bahia e no Piauí, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva culpou seus antecessores pelos transtornos causados
pelos temporais, prometeu recursos para consertar os estragos
e afirmou que vai reconstruir as casas derrubadas pelas águas.
Mas pediu paciência aos desabrigados e afirmou que não
vai reassentar ninguém em áreas de risco, mesmo
que a solução para os problemas demore mais.
"Vocês são vítimas do descaso que,
historicamente, o poder público tem com o povo pobre
do nosso país. O pobre sempre vai ser escorraçado
para áreas que alagam, para morro que escorrega ou
para a beira de um córrego que, quando enche, deixa
as casas alagadas", discursou Lula em Teresina.
O presidente disse que os problemas se acumularam “de
tal ordem que não há milagre que, num toque
de mágica, possa resolver”. E citou números:
117 mil pessoas atingidas pelas enchentes em 16 estados, 2.600
casas destruídas e 9.700 moradias danificadas. À
noite, porém, a Defesa Civil Nacional divulgou os números
atualizados e piores: 120.592 desabrigadas ou desalojadas
em 405 municípios, 4.285 casas destruídas, 27.730
danificadas, 96 mortos e 112 feridos.
Embora o ministro da Integração Nacional, Ciro
Gomes, tenha afirmado que não existe limite de recursos
para recuperar as áreas atingidas, os únicos
valores mencionados na viagem foram os R$ 32 milhões
que já estão sendo usadas no envio de remédios,
comida e água potável, além da retirada
de pessoas de cidades e áreas isoladas; e os R$ 7 milhões
que serão liberados para a reconstrução
de um trecho do dique do Rio Poti, que ameaça romper
e deixar 220 mil pessoas desabrigadas em Teresina.
"Não queremos enganar o povo porque vocês
já foram enganados a vida inteira", disse Lula.
Jarbas reclama da burocracia
O presidente disse que será feito um levantamento
conjunto dos prejuízos, por parte dos governos municipais
e estaduais, e observado de perto pela União:
"Vamos fazer seis milhões de casas populares
e as populações desabrigadas terão prioridade.
Mas não podemos ser irresponsáveis e levantar
as casas que caíram no mesmo lugar, para que na próxima
chuva elas voltem a cair. Vamos ter que contar com apoio de
governos e prefeituras para recolocar populações
em outras áreas que não sejam de risco".
Ciro informou que há 16 equipes do governo federal
visitando as áreas atingidas em todo o país,
para “um levantamento criterioso” das necessidades.
Tanta cautela deixou irritado o governador de Pernambuco,
Jarbas Vasconcelos (PMDB), que criticou o que chamou de excesso
de burocracia do governo na liberação de recursos.
"Os recursos gerais são poucos. O presidente
impôs restrição para a reconstrução
de casas, disse que isso terá um monitoramento maior
do governo. Isso é todo um processo burocrático
e demorado. Tivemos também os exemplos de cestas básicas
enviadas por Brasília, mas que não chegaram
na ponta, como ocorreu no município de Floresta",
disse Jarbas.
Nascido no agreste de Pernambuco — de onde fugiu de
uma seca — Lula apelou para a crença do sertanejo,
que reza muito invocando chuva.
"Foi tanta reza que veio chuva demais. É verdade
que tem 117 mil que foram brutalmente atingidos. Mas tem uns
20 milhões de brasileiros que estão felizes,
diante da perspectiva de plantar e fazer uma colheita tão
grande como nunca tiveram na vida", disse o presidente.
As informações são
do jornal O Globo.
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