O ministro da Fazenda, Antonio Palocci,
convocou ontem uma entrevista coletiva para tentar acalmar
o mercado, contestar as crescentes insinuações
de que a política econômica poderia sofrer mudanças
e responder às críticas feitas à decisão
do Banco Central (BC) de manter a taxa básica de juros
da economia em 16,5% ao ano. Diante da onda de pessimismo
que se alastrava pelos meios político e empresarial
e dos alertas feitos pelo próprio BC sobre pressões
na inflação, o ministro ressaltou que a manutenção
da Selic é temporária e que 2004 é mesmo
o ano do crescimento e do investimento.
"O Brasil é vencedor. Quem apostar aqui vai ganhar",
disse.
Segundo ele, o Brasil se prepara para entrar num ciclo histórico
de crescimento e o governo não pretende fazer mudanças
na política econômica porque considera que ela
tem surtido efeito. Mudar de rota agora, avisou Palocci, seria
incompreensível. O ministro disse que o governo tem
uma agenda clara e vai cumpri-la. Palocci citou como resultados
positivos do governo a melhora do perfil da dívida
pública e a manutenção do compromisso
de não aumentar a carga tributária em 2003.
Ao mesmo tempo em que fez uma defesa veemente da autonomia
do BC, Palocci obedeceu à determinação
do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e minimizou
a importância de se aprovar a curto prazo no Congresso
um projeto de autonomia operacional do BC. A mudança
institucional, que para o ministro ajudará a diminuir
o custo da política monetária, seria um importante
legado para futuros governos.
Para o ministro, não há nenhum indício
de crise este ano. Ele disse que a inquietação
do mercado em relação à possibilidade
de aumento das taxas de juros na economia americana é
normal porque os investidores trabalham com expectativas.
Abaixo, os principais trechos da entrevista de Palocci, que
durou cerca de uma hora e meia.
APOSTAS DOS MERCADOS: “Quem apostou no Brasil no início
de 2002 ganhou e quem apostou contra perdeu. Este ano vai
ser de investimento e de crescimento. Quem apostar no Brasil
vai ganhar porque o Brasil é um país vencedor.
O que está acontecendo no mercado internacional não
é uma piora verde-amarela. Houve desvalorização
das moedas e aumento de risco dos países emergentes.
Mas isso já era esperado. O mercado trabalha com expectativas
e a leitura dos fatos já está dada quando eles
acontecem. Por isso, depois do fato, os indicadores costumam
melhorar e não piorar.”
MUDANÇA NA POLÍTICA ECONÔMICA: “Depois
de termos feito um ajuste e melhorado substancialmente os
indicadores econômicos, mudar de rota seria incompreensível.
Nem há a possibilidade. Seria colocar o país
sem rumo. O que é preciso agora é aproveitar
os bons momentos.”
EQUIPE: “Sei que os guardiões do Tesouro não
são as pessoas mais amadas. Mas confio plenamente na
competência do Joaquim Levy (secretário do Tesouro
Nacional) e do Marcos Lisboa (secretário de Política
Econômica).”
AUTONOMIA DO BC: “O governo tem que colocar em pauta
as questões que são mais urgentes e que pressionam
a nossa pauta. Eu diria que a autonomia do BC é um
dos temas que menos pressionam o governo hoje porque o BC
tem autonomia operacional na prática. Acho o debate
procedente, mas o projeto pode ser analisado amanhã,
daqui a dois meses, um ano. A autonomia do BC representará
um custo menor para a política monetária. Queremos
deixar um legado e conquistas institucionais para o futuro.”
JUROS: “O Copom soltou uma nota dizendo que suspendeu
temporariamente a trajetória de queda nos juros. Então,
se suspendeu temporariamente, não retirou a perspectiva
de uma curva de queda. Mas não podemos apenas depender
da política monetária. Para termos crescimento,
é preciso mexer na microeconomia. Temos uma pauta relativa
a marco regulatório, a mercado imobiliário,
mercado de capitais e um conjunto de medidas de infra-estrutura.
Se conseguirmos fazer com que esses benefícios sejam
absorvidos, vamos garantir avanços para que o Brasil
tenha um novo ciclo histórico de crescimento.”
INFLAÇÃO: “As pressões inflacionárias
de janeiro estão concentradas em fatores sazonais relativos
a itens que tradicionalmente aumentam neste período,
como escola, transporte e os que sofrem efeitos climáticos.
Esses preços mostraram repercussão maior”.
CARGA TRIBUTÁRIA: “Só se pode conseguir
um crescimento sustentável de longo prazo se você
estabelecer certos parâmetros sólidos. Ano passado,
dissemos que iríamos fazer o ajuste sem aumento de
carga tributária, mas muita gente não acreditou.
Especialistas chegaram a dizer que ela estava em 41%. Mas
nossas contas finais mostram que a carga no ano passado ficou
0,5% do PIB mais baixa que em 2002.”
CRESCIMENTO: “Na medicina a gente aprende que o mais
legal é você fazer um parto e dizer para a mãe:
‘Olha, o seu filho nasceu bem e é lindo’,
mas muitas vezes você tem que dizer para o paciente
que ele precisa fazer uma cirurgia. Aqui, a gente às
vezes pode falar que o parto foi bem e às vezes tem
que anunciar cirurgias ou um tratamento prolongado. Felizmente
para o Brasil, a cirurgia já passou, o país
já saiu da UTI e está fazendo um tratamento
sereno, prolongado, para melhorar a saúde econômica,
fortalecer os músculos, crescer e ganhar energia para
de fato ser o país que nós todos queremos.”
DÍVIDA PÚBLICA: “Este ano, todos os analistas
consideram que a dívida pública, após
dez anos, vai cair. É uma boa notícia. Conseguimos
deixar a dívida em equilíbrio no ano passado
e vamos reduzi-la em 2004.”
POLÍTICA INDUSTRIAL: Em entrevista à TV Globo,
Palocci disse: “No passado, tivemos políticas
industriais que escolhiam setores e davam benefícios
para alguns setores. Não acho que seja o adequado.”
As informações são
do jornal O Globo.
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